Joaquim da Costa Ribeiro é um nome importante para a física brasileira. Foi um dos pioneiros da pesquisa experimental nessa área, que apenas começava no Brasil, na segunda década do século 20, quando ele se formou em engenharia elétrica. Seu trabalho como pesquisador e professor e sua participação nas iniciativas em favor do progresso científico do país já dariam ao seu nome um lugar de destaque na história da ciência brasileira, mas ele também conseguiu renome internacional ao descobrir, há 60 anos, um fenômeno físico até então desconhecido ‐ o efeito termodielétrico.

Os laboratórios científicos instalados na antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século passado, contavam com poucos recursos e eram bastante simples se comparados com os existentes na Europa ou nos Estados Unidos. Uma dessas bancadas de pesquisa, porém, seria o palco de uma importante descoberta na área de física experimental, feita na época da Segunda Guerra Mundial por um engenheiro eletricista brasileiro que estudava a aplicação de cargas elétricas a materiais isolantes, chamados tecnicamente de dielétricos.

Joaquim costa Ribeiro em seu laboratório, por
volta de 1945, em gravura de Promiani
(imagens: AHHC/CLE/Unicamp)

Esse engenheiro era Joaquim da Costa Ribeiro, nascido no Rio de Janeiro em 1906 e considerado hoje um dos pioneiros da física experimental no país. Formado em 1928 na Escola Nacional de Engenharia, da própria Universidade do Brasil, em pouco tempo passou a integrar o ambiente científico do então Instituto de Tecnologia, onde trabalhou ao lado de outros pesquisadores nacionais pioneiros, autodidatas em física, e do físico alemão Bernhard Gross (1905-2002). Gross, que chegou ao país em 1933, organizou o primeiro curso de física do Rio de Janeiro, iniciado em 1935.

Na Universidade do Brasil, Costa Ribeiro iniciou em 1940 estudos físicos sobre materiais naturais encontrados no Brasil. Seus primeiros trabalhos incluíam a busca de um novo método para medir a radioatividade e a aplicação desse método a minerais radioativos brasileiros. Em seguida, passou a estudar a produção de eletretos (sólidos com carga elétrica permanente) empregando diversos materiais dielétricos (isolantes), como parafina, colofônio, naftaleno e também a cera de carnaúba, extraída de uma palmeira nativa da região Nordeste. Na época, os eletretos eram produzidos em geral através da aplicação de campos elétricos externos aos materiais isolantes.

Durante as pesquisas com eletretos, Costa Ribeiro observou um fenômeno que até então não havia sido percebido: o eletreto se formava mesmo sem a aplicação de uma corrente elétrica, quando o material isolante se solidificava naturalmente, após ser derretido por aquecimento. Isso significava que a mudança no estado físico dos dielétricos era, por si só, capaz de eletrificar esses materiais, desde que uma das fases envolvidas na transição fosse a sólida. Era uma descoberta inesperada, ainda mais diante das condições em que as pesquisas eram realizadas no Brasil, na época.

O fenômeno, batizado de ‘efeito termodielétrico’ pelo cientista e descrito por ele em artigo nos Anais da Academia Brasileira de Ciências em 1944, chamou a atenção do meio científico, inclusive no exterior, e trouxe notoriedade para seu descobridor. A partir daí, Costa Ribeiro integraria várias expedições de estudo, no Brasil e no exterior, participaria de vários congressos e conferências e publicaria trabalhos sobre o fenômeno em revistas científicas internacionais. A descoberta daria a ele o prêmio Einstein, da Academia Brasileira de Ciências. Hoje, o efeito termodielétrico também é conhecido como efeito Costa Ribeiro, em sua homenagem.


Eliane Morelli Abrahão
Arquivos Históricos em História da Ciência,
Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência,
Universidade Estadual de Campinas

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