Rio de Janeiro

Leopoldo de Meis é acima de tudo um viajante. Mas não apenas no sentido geográfico da palavra, embora certamente esteja qualificado nesse quesito. De Meis nasceu em Suez, no Egito, em primeiro de março de 1938, e passou os primeiros meses de sua vida no Cairo. Sua infância, no entanto, se deu na cidade natal de seus pais, Nápoles, na Itália, para onde a família seguiu após o início da Segunda Guerra Mundial. Com a difícil situação econômica do pós-guerra, seu pai, um violoncelista, decidiu levar a família para o Brasil, onde de Meis chegou em fevereiro de 1947.

Avesso aos estudos, o futuro bioquímico preferia brincar e explorar as várias religiões – foi católico, budista e espírita, tudo no período de sua adolescência. Seu interesse para os estudos foi despertado por um grande amigo, que também o iniciou no espiritismo, embora de Meis hoje não siga religião alguma.

Determinado a ser médico, entrou para o curso de medicina da Universidade do Brasil (atual Federal do Rio de Janeiro) em 1955, onde descobriu que a prática clínica lhe dava sono. Por sorte, um estágio no laboratório do médico Walter Oswaldo Cruz [1910-1967] o introduziu à carreira científica. Foi nessa época também que o bioquímico teve seu primeiro contato com a divulgação científica: foi repórter de ciência do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro.

Leopoldo de Meis
À esquerda, de Meis e sua primeira esposa, a geógrafa Maria Regina Mousinho, com quem teve quatro filhos. À direita, na época da formatura na Faculdade de Medicina, em 1961. (fotos: arquivo pessoal)

Em 1962, foi trabalhar nos Institutos Nacionais de Saúde, em Bethesda, nos Estados Unidos, onde, segundo ele, descobriu o que era ciência de verdade. Apesar do grande conhecimento adquirido nos dois anos que passou no exterior, retornou ao Brasil sob o estigma de não haver publicado artigos durante sua estada.

Além disso, pisou em solo brasileiro um mês antes do golpe de 1964 e seu desagrado com as atitudes pró-militares da direção do Instituto Oswaldo Cruz, onde trabalhava, o levaram a mudar para o Instituto de Biofísica da UFRJ dois anos depois.

“Entre a biofísica, que era agradável, e a mulher, que era maravilhosa, a vida se tornou muito mais amena”

Na Biofísica, de Meis floresceu, publicando quatro artigos na área à qual se dedicaria durante boa parte de sua carreira: transdução de energia e bomba de cálcio (ver ‘Transformação de energia na membrana das células’ na CH 48 – disponível para assinantes do acervo digital). Essa bomba regula a concentração de íons cálcio nos músculos e está envolvida na contração muscular, entre outros processos.

Nessa época, casou com sua primeira esposa, com quem teve quatro filhos, que lhe deram cinco netos. “Entre a biofísica, que era agradável, e a mulher, que era maravilhosa, a vida se tornou muito mais amena”, declara.

Mas o espectro da perseguição política não o poupou e se viu obrigado a ir para a Alemanha com a família em 1969 à espera de uma situação menos ameaçadora. No ano seguinte, recusou uma oferta generosa de trabalho em Heidelberg, onde estava, para voltar ao Brasil e retomar sua pesquisa na UFRJ.

Versátil e ativo

Em 1978, de Meis se tornou professor titular do Instituto de Bioquímica Médica (então Departamento de Bioquímica), abrindo caminho para o estabelecimento de pesquisas e a reformulação do ensino na instituição. Ajudou a criar a pós-graduação na área e enveredou por outros campos além da bioquímica celular, como cientometria (análise da produção científica), educação e divulgação de ciência.

Os novos interesses renderam frutos na forma de livros, vídeos, cursos para estudantes secundaristas e uma nova subárea para a pós-graduação do instituto – Educação, difusão e gestão em biociências –, criada em 1993.

Com 74 anos, de Meis continua ativo, colaborando com pesquisadores do mundo todo e orientando alunos

Atualmente, com 74 anos, de Meis continua ativo, embora tenha enfrentado enfisemas pulmonares, infartos e a diabetes. Ele continua colaborando com pesquisadores do mundo todo – foram vários ao longo dos anos, como o belga André Goffeau e o norte-americano Paul Boyer, ganhador do prêmio Nobel de química de 1997 –, bem como orientando alunos de mestrado e doutorado.

Para estes, escolhe linhas de pesquisa que possam ser completadas dentro do tempo de bolsa limitado que dispõem. Para si, no entanto, reserva as “ideias malucas”, aquelas que lhe permitem transitar por uma terra incógnita. Ao ser perguntado sobre como resumiria sua carreira científica, responde com duas palavras: “muito divertida”.

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