Um estudo com o peixe tucunaré, muito consumido por populações do Norte do Brasil, mostra que a ação humana pode estar provocando o empobrecimento genético de suas populações. O processo, conhecido como erosão genética, é o mesmo que levou praticamente à extinção o mico-leão-dourado.
A variabilidade genética é uma das mais importantes garantias de sobrevivência das espécies, pois permite a adaptação às mudanças no ambiente. A bióloga Vera Maria Fonseca de Almeida-Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, explica que, no caso do tucunaré, a sobrepesca em alguns locais tem feito com que essa variabilidade diminua ao reduzir os cruzamentos entre indivíduos que vivem em ambientes diferentes.
“Os tucunarés vivem em populações separadas em lagos, mas os indivíduos de lagos diferentes conseguem cruzar entre si usando um rio central para passarem de um local a outro”, explica ela. “No entanto, a sobrepesca em alguns lagos está diminuindo esses cruzamentos.”
Segundo Almeida-Val, que coordenou o estudo com o peixe na Amazônia, o menor fluxo gênico entre as populações do tucunaré é evidenciado por exames de proteínas e DNA. Ela alerta, porém, que o mesmo processo pode estar acontecendo com outras espécies animais que não têm sido alvo de estudos desse tipo. “Entre as causas do processo estão a abertura de estradas, a construção de barragens e qualquer outro evento que isole populações que antes trocavam genes entre si”, diz.
A pesquisadora também lembra que a divisão de uma população única em diferentes populações que não trocam genes entre si é um processo natural e de grande importância para o surgimento de novas espécies. O alerta agora é quanto à velocidade com que esse processo tem ocorrido. “A ação humana acelera o processo de separação das populações sem que haja tempo para que elas se adaptem ao novo ambiente.”
Mariana Ferraz
Ciência Hoje/RJ