A canção popular transformada e fortalecida

Se os anos 1960 foram tão significativos na cultura brasileira, e são hoje alvo de tanto interesse, é porque neles se promoveram transformações profundas nas artes, na produção cultural, na política e nos comportamentos.

Evidentemente, o tropicalismo não foi o único acontecimento dessa época, mas foi o mais instigante e crítico. O momento tropicalista da cultura brasileira, em 1967 e 1968, significou uma radicalização do formidável florescimento artístico cultural em curso desde a década anterior, em consonância com os rumos políticos e socioeconômicos do desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitschek.

Respondeu à altura aos imperativos de modernização do país, aos sinais de internacionalização da cultura e às injunções políticas que resultaram da repressão cultural e política do regime militar implantado pelo golpe de 1964.

As transformações sociais e culturais do país tiveram início logo nos primeiros anos da década de 1960. O mundo idílico gerado pelo otimismo dos anos 1950 começava a se quebrar. A miséria, o analfabetismo, a exclusão social e a dominação imperialista saltavam à cena abruptamente, compondo a imagem de um país ‘subdesenvolvido’, injusto, culturalmente atrasado.

A tentativa era a de criar um tipo de expressão artística apta a transmitir recados políticos e capaz de mobilizar as camadas pobres e a classe média

A tentativa era a de criar um tipo de expressão artística apta a transmitir informações e recados políticos e capaz de mobilizar as camadas pobres e a classe média para a participação social.

Nessa cena, o jovem, em especial o estudante universitário, tornou-se participante, sensível às palavras de ordem das organizações estudantis e sindicais. Sua atitude era de impaciência: não mais marchar para o futuro, seguindo as promessas do país ‘em desenvolvimento’, mas comprometer-se, fundindo seu destino ao destino do país.

Balde de água fria

Golpe 1964
A repressão cortou a evolução do movimento. (foto: arquivo público do Estado de SP)

O golpe de 1964 significou um balde de água fria, que cortou a evolução dessas ações entusiasmadas com a redenção do país, ou seja, com a eliminação da miséria e do analfabetismo, a libertação da tutela política e econômica estrangeira (em especial a norte-americana), a defesa da cultura nacional e assim por diante.

Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, a ascensão à presidência do país de João Goulart, considerado um político de esquerda, acendeu as reivindicações de reformas de toda ordem, que se desenvolveram até a eclosão do golpe militar, em abril de 1964.

Excitada por um fundo sentimento de nacionalidade e de sensibilidade às necessidades básicas do povo brasileiro, a reivindicação de reformas econômicas, sociais, educacionais e culturais articula-se em ininterruptos acontecimentos políticos, em projetos de transformação da realidade brasileira e em movimentos artísticos em que a denúncia das desigualdades mobilizava uma arte comprometida com as causas populares, mas da qual não estava ausente a experimentação.

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Celso Favoretto
Faculdade de Educação e Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo

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