A história da infecção pelo HIV revela marcas sociais profundas e uma constante luta por visibilidade e aceitação. As representações históricas da Aids denunciam a necessidade de formas alternativas de cuidado, que ultrapassem a dimensão biomédica e englobem também os aspectos psicossociais das pessoas vivendo com HIV.
Enquanto a comunidade científica busca novas abordagens terapêuticas promissoras e pavimenta o campo em direção a uma cura amplamente acessível, a população que vive com o vírus persiste frente aos desafios impostos pela estigmatização. Segundo o programa conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (UNAids), o estigma e a discriminação figuram entre os principais obstáculos para prevenção, tratamento e acesso a cuidados em relação ao HIV.
Dados do índice de estigma 2025 da UNAids mostram que 52,9% das pessoas que vivem com HIV no Brasil relataram ter sofrido algum tipo de discriminação em algum momento de suas vidas. É importante destacar que o estigma ainda está presente em espaços cotidianos, que deveriam ser de acolhimento, como serviços de saúde, ambientes de trabalho e de convívio com familiares e amigos.
Além disso, situações discriminatórias vivenciadas por pessoas que vivem com HIV impactam diretamente em tomadas de decisões importantes, como testagem e procura por serviços de saúde. Essas observações evidenciam que o estigma permanece como uma barreira real ao cuidado, à prevenção e à qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV.
Ao longo dos anos, a arte e a cultura apresentaram um papel central no enfrentamento do estigma e na conscientização e informação da população sobre HIV e Aids. Nos Estados Unidos, peças teatrais, filmes e músicas deram voz às vítimas e ampliaram a conscientização, com destaque para obras como Philadelphia, Clube de Compras Dallas e Milk.
No Brasil, figuras públicas como Cazuza, que denunciaram o preconceito e o abandono sofrido por pessoas vivendo com HIV, tornaram-se símbolo de resistência e marco na luta contra HIV/Aids. Ao longo da última década, tem-se observado um movimento cada vez mais expressivo de pessoas vivendo com HIV que escolheram romper o silêncio. Esse processo de transformação tem encontrado nas redes sociais um espaço privilegiado de visibilidade e troca.
Por meio dessas plataformas, muitas dessas pessoas optam por abrir mão do sigilo sorológico garantido por lei e, ao fazê-lo, assumem um papel ativo na sociedade: promovem debates, democratizam o acesso à informação de qualidade, enfrentam a desinformação e ajudam a desconstruir preconceitos. Mais do que histórias individuais, essas vozes coletivas transformam a percepção social do HIV, fortalecem a luta contra o estigma e reafirmam o direito de viver com dignidade e cidadania.
Com diagnóstico precoce, apoio social e acesso ao tratamento gratuito e contínuo oferecido pelo SUS, as pessoas que vivem com HIV no país podem levar uma vida plena, longa e saudável. Hoje, o uso adequado da terapia antirretroviral permite alcançar a indetectabilidade viral, garantindo qualidade de vida e eliminando o risco de transmissão do vírus pela via sexual.
Além disso, o fortalecimento das redes de apoio, a redução do estigma e o incentivo à informação e à prevenção são fundamentais para que cada pessoa exerça plenamente seus direitos, viva com dignidade e seja protagonista de sua própria história. Dessa forma, o enfrentamento do HIV transcende a dimensão biomédica, representando também um compromisso coletivo com a inclusão, o respeito e a justiça social.