Pesquisa com 747 professoras da rede de escolas públicas do município de Vitória da Conquista, na Bahia, realizada pelo Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Estadual de Feira de Santana, apontou resultados alarmantes: a maioria (cerca de 70%) das professoras do ensino fundamental consultadas apresentou danos nas cordas vocais ou rouquidão. O estudo mostrou que as alterações de voz devem fazer parte do grupo das chamadas doenças ocupacionais e afetam a qualidade de vida de professores e o desempenho escolar dos alunos.

70% das professoras analisados tinham danos nas cordas vocais ou rouquidão (foto: Elias Minasi).

De acordo com o médico Eduardo Reis, membro da equipe de professores e pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFBA, 59,2% das professoras tinham rouquidão, enquanto 12,9% foram diagnosticadas com calos nas cordas vocais, problema mais grave, tratado predominantemente por meio de cirurgia. As mulheres são mais sujeitas aos danos por apresentarem cordas vocais mais sensíveis, além de sofrerem com o desgaste físico e psicológico causado pela profissão.

“Muitas professoras do município têm cargas horárias muito elevadas, trabalham em dois ou três turnos e algumas ainda lecionam em escolas diferentes. E quem leciona há mais de cinco anos, tem também maior probabilidade de desenvolver calos nas cordas vocais”, diz Reis. Mas estes são apenas alguns fatores que contribuem para a perda da voz.

Segundo o pesquisador, os maiores problemas estão na estrutura física e no modelo pedagógico das escolas, que não condizem com o ambiente propício e saudável para o ensino. São freqüentes os problemas de acústica, salas de aula de tamanho inadequado e elevado número de alunos. “Além do barulho dentro da sala, o movimento de alunos nos corredores interrompe as aulas e prejudica o desempenho dos professores, que acabam usando a voz de maneira incorreta”, observa Reis.

Alternativas
E o que as professoras podem fazer para reduzir os danos na voz? O pesquisador explica que beber água nos intervalos é importante, porque ajuda a hidratar as cordas vocais. Além disso, podem optar por atividades que permitam maior participação dos alunos, como trabalhos em grupos ou leituras coletivas. O fundamental, porém, conforme o estudo, é que as escolas tomem iniciativas como a aquisição de microfones, a redução do número de alunos nas salas de aula e a melhoria das condições acústicas.

“Outra medida é a substituição do quadro negro pelo branco, porque, além de irritar a garganta, o giz causa alergias. E é importante que se pague um salário digno para que o professor possa reduzir a jornada de trabalho e diminuir as atividades de ensino em várias escolas”, destaca o médico.

Afastadas das escolas em função da disfonia, as docentes encaram ainda as dificuldades do mercado de trabalho. “A saúde mental também é afetada porque as professoras de ensino fundamental carregam uma imensa responsabilidade de transmissão de conhecimento”, diz Reis. Ele adverte que o problema da disfonia ocorre em todo o país e afeta tanto professores do ensino público quanto do particular.

Juliana Marques
Ciência Hoje / RJ

 

Outros conteúdos desta edição

Outros conteúdos nesta categoria

614_256 att-22975
614_256 att-22985
614_256 att-22993
614_256 att-22995
614_256 att-22987
614_256 att-22991
614_256 att-22989
614_256 att-22999
614_256 att-22983
614_256 att-22997
614_256 att-22963
614_256 att-22937
614_256 att-22931
614_256 att-22965
614_256 att-23039