Na Amazônia, centenas de casos de malária estão sendo registrados fora de época. As larvas do mosquito Anopheles darlingi, vetor da doença, se desenvolvem nas áreas alagadas pelas cheias dos rios. Recentemente, o aquecimento global adiantou em cerca de quatro meses esse processo, além de acelerar a reprodução dos mosquitos devido às altas temperaturas.
Para garantir a eficácia da estratégia de prevenção à malária, o Instituto Nacional de Pesquisas do Amazonas (Inpa) estuda como as mudanças climáticas estão afetando o ciclo da doença na região.
A concentração de chuvas na Amazônia – período popularmente conhecido como ‘inverno’ – acontece entre novembro e junho, quando os rios chegam a subir 15 metros ou mais, e as temperaturas são mais amenas.
Entretanto, as ‘marés amazônicas’ não seguem mais esse padrão: em 2005 a região foi castigada por uma seca acentuada; em 2007 as águas subiram tão rapidamente que atingiram, em dezembro, níveis que só seriam registrados entre abril e maio.
A influência no ciclo do mosquito causada pelas alterações ambientais torna de fundamental importância os pontos sentinelas de vigilância entomológica, que preveem quando haverá maior incidência do Anopheles – dado imprescindível para o combate à malária. “Em fevereiro a densidade de mosquitos costumava ser de no máximo 30 e, nesse mesmo mês no ano passado, foram constatados cerca de 1.600 exemplares”, salienta Wanderli Pedro Tadei, pesquisador do Inpa.
O Inpa prevê uma mudança de estratégia de prevenção à doença, a começar por aumentar o número de pontos sentinelas nas cidades mais afetadas. A malária, em geral, é transmitida por meio da picada do mosquito fêmea do Anopheles darlingi contaminado pelo protozoário do gênero Plasmodium.
Uso de repelentes, mosquiteiros impregnados de inseticida, borrifação dentro das casas e drenagem das áreas alagadas que se transformaram em criadouros de mosquitos da malária são algumas das medidas adotadas para reduzir o contato homem/vetor e, assim, controlar a doença.
Marcella Huche
Ciência Hoje/RJ