Biocida pode salvar profetas de Aleijadinho

Estátua do profeta Joel, em Congonhas, antes da aplicação do biocida. As manchas brancas (no rosto e no ombro, por exemplo) são microrganismos grudados à rocha. À direita, a mesma estátua hoje, meses depois do tratamento com o biocida. A maioria das manchas desapareceu. (fotos: Maria Aparecida Resende)

A salvação de um dos mais importantes patrimônios históricos e culturais do Brasil atende pelo nome de p-hidroxibenzoato de etila ou Asseptin A. Pesquisadores mineiros estão usando esse ácido orgânico na preservação da obra Os profetas , um conjunto de 12 estátuas esculpidas em pedra-sabão pelo artista Aleijadinho no século 19. O composto mostrou-se capaz de matar liquens e outros microrganismos que ameaçavam a integridade das peças, localizadas em Congonhas (MG).

Desde 1990, Brasil e Alemanha, através de um acordo de cooperação científica, desenvolvem um projeto de preservação da obra Os profetas , que conta com a participação de especialistas de diversas instituições brasileiras. Eles buscam soluções para acabar com os microrganismos (algas, fungos e liquens) que prejudicam as esculturas. Os liquens, por exemplo, além de possuírem raízes que penetram na rocha e causam trincas, produzem também ácido oxálico, muito corrosivo.

Em 1996, o Asseptin A foi aplicado na aba do manto de uma das esculturas e apresentou ótimos resultados: matou os microrganismos e impediu a recolonização da rocha por nove anos. Antes de receber o biocida, a peça é umedecida com uma solução de etanol, que ajuda a desidratar as células dos microrganismos, o que facilita a ação do produto. “O biocida coagula as proteínas presentes na membrana celular desses organismos e os leva à morte”, explica a microbiologista Maria Aparecida Resende, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Apesar de ser normalmente associado à preservação de alimentos, o Asseptin A já havia sido usado na restauração de estátuas nos países nórdicos. Além de matar os microrganismos, de modo a que eles caiam sem necessidade de ação mecânica (fato importante quando se trata de patrimônios históricos), ele não forma crosta, não mancha a obra e não é tóxico, evitando problemas para o turismo.

Tudo isso, aliado ao bom desempenho nos testes, fez com que o produto fosse aplicado, em julho de 2005, em toda a obra. Os pesquisadores registraram, na última medição, em janeiro deste ano, uma diminuição de 50% na atividade respiratória dos microrganismos. “O sucesso poderia ser ainda maior, não fossem as chuvas nesse período, que lavaram o biocida das estátuas”, diz Resende. Em abril, o produto foi aplicado novamente e os resultados serão avaliados após três meses.

Marcelo Garcia
Ciência Hoje /RJ

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