Como as mudanças climáticas podem afetar animais que vivem no subsolo?

Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal (pós-doutoranda)
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Lagartos Gymnophthalmidae fossoriais

CRÉDITO: IMAGEM CEDIDA PELA AUTORA

Animais fossoriais são aqueles que vivem a totalidade ou parte de suas vidas debaixo do solo, em locais como galerias subterrâneas ou sob camadas do solo pouco profundas. A fossorialidade é um hábito relativamente comum entre mamíferos, répteis, anfíbios e invertebrados. Registros fósseis indicam o uso de ambientes subterrâneos há 250-280 milhões de anos, evidenciando uma longa trajetória evolutiva em ambientes mais estáveis em termos de temperatura, umidade e gases. Tais interações resultaram em uma fauna com alta especialização ecológica e funcional, que enfrenta desafios únicos com as mudanças climáticas.

O aumento da temperatura média e de eventos extremos, como secas prolongadas, pode alterar os gradientes térmicos do subsolo, além da estrutura do solo. Fenômenos como esses afetam diretamente animais que dependem de temperaturas específicas para processos fisiológicos como reprodução, digestão e locomoção. Esse é o caso de animais ectotérmicos – aqueles que dependem de fontes externas de calor para regular sua temperatura corpórea. Alguns exemplos são espécies fossoriais de lagartos, anfisbenas (cobra-de-duas-cabeças) e anfíbios, que apresentam temperaturas de atividade mais baixas e sobrevivem em faixas de temperaturas mais restritas do que animais na superfície.

Com distribuição geográfica limitada, animais fossoriais enfrentam desafios relacionados ao custo energético da locomoção fossorial. Esta pode ser influenciada pela estrutura do solo, que varia com mudanças no regime de chuvas. Alguns lagartos fossoriais, por exemplo, têm cabeças adaptadas à escavação de solos úmidos ou arenosos. Alterações no habitat, como desertificação ou mudanças na vegetação, podem restringir ainda mais sua distribuição, aumentando o risco de extinção local. Outro desafio crítico é a concentração de gases no subsolo, que apresenta menos oxigênio e mais dióxido de carbono. O aquecimento global pode intensificar a atividade microbiana, agravando ainda mais a redução de oxigênio nesses ambientes.

Apesar de oferecer refúgio contra as condições extremas da superfície, o ambiente subterrâneo também está sujeito aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, ressaltando a importância de compreendê-los e mitigar possíveis perdas na biodiversidade global.

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