Emagrecer: gordura ou carboidrato?

Na medicina do emagrecimento, há muitas oportunidades para profissionais de caráter duvidoso e empresas com visão contábil da saúde. E sobra desilusão para incautos que, incensados pela mídia da ‘corpolatria’, querem, rapidamente, ter o corpo na forma de uma ‘vareta’ ou parecer uma imagem tratada por Photoshop. É um campo gordo em promessas e magro em base científica. 

Agora, os resultados de um artigo recente despejam uma gota de cientificismo muscular nesse oceano adiposo de equívocos e dúvidas. Nas palavras dos autores, são os dados mais precisos até agora para responder à pergunta: ‘o que é melhor para perder gordura corporal: cortar carboidratos ou gorduras?’

Por décadas, Kevin Hall, ex-físico e atual pesquisador na área de metabolismo nos prestigiosos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), nos EUA, juntou e analisou dados e resultados de estudos nutricionais. Com eles, construiu um modelo computacional robusto. Eis aqui duas das várias previsões do programa: i) apenas as dietas baseadas em baixos teores de carboidratos levam a mudanças na forma como o corpo queima sua própria gordura; ii) mas só dietas com baixos teores de gordura é que fariam com que o organismo perdesse maiores quantidades dessa substância.

Perfeito. Mas isso eram só previsões de um programa de computador. Era preciso ter dados experimentais. E Hall foi à prática: reuniu 19 voluntários em uma ala hospitalar e controlou minuciosamente a dieta de cada um deles. Na primeira semana, cortaram-se 30% das calorias totais das refeições, diminuindo-se o teor de carboidrato, mas mantendo-se o de gordura. Na segunda semana, foi a vez de diminuir a gordura e manter os carboidratos.

Resultado: o programa estava certo. A gordura corporal perdida com a dieta em que houve restrição de gordura foi maior do que no cenário em que se diminuiu a quantidade de carboidratos.

Antes que alguém se entusiasme e passe a ser adepto da nova dieta, alerta dos autores: o estudo não tem ainda aplicações práticas

O computador também fez outra previsão – não testada, no caso. Quando os períodos são muito longos, o corpo age no sentido de minimizar as diferenças de perda de gordura nessas duas dietas. Ou seja, dietas diferentes, mas com a mesma quantidade de calorias, acabariam levando à mesma perda de gordura corporal.

Antes que alguém se entusiasme e passe – o que é muito comum – a ser adepto dessa nova dieta, segue alerta dos autores: o propósito do estudo foi apenas explorar a fisiologia de como reduções calóricas de gordura versus carboidrato afetam o corpo humano. Ou seja, por enquanto, sem aplicações práticas.

Exercício ou dieta?

Fazer exercícios tem um monte de benefícios para a saúde – fato largamente comprovado pela literatura científica, a ponto de ser denominado “cura milagrosa”. Mas, na hora de perder peso, é melhor se exercitar ou, como se diz popularmente, ‘fechar a boca’?

O tema foi abordado recentemente pelo médico e pesquisador Aaron Carroll, da Universidade de Indiana (EUA), em sua coluna no jornal diário norte-americano The New York Times. A matemática da argumentação de Carroll é simples. Digamos que você consuma diariamente mil calorias a mais do que seu corpo queima. Ficou um saldo aí. Como queimá-lo? Exercício, certo?

Certo, mas o problema é que se exercitar queima relativamente poucas calorias. Por exemplo, meia hora de natação ou corrida vão fazer você gastar cerca de 350 calorias. A conta é simples: você terá que correr/nadar por cerca de 1,5 hora para se livrar do excesso. Sejamos sinceros, isso não é para qualquer um – afinal, esse é o tempo aproximado de uma corrida de 15km. Sem contar que você terá que arrumar esse intervalo em seu dia a dia. Todos os dias.

Exercícios e emagrecimento
Exercícios como a corrida queimam relativamente poucas calorias. Para perder peso, a dieta é o que conta. (foto: Cassio Vogel Dorneles / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Receita bem mais fácil: comer menos. Carroll diz que cortar 1 litro de refrigerante (doce) por dia já resolve a questão. Ou aquele copão de milk-shake das redes de comida rápida. Em resumo, tirar de seu cardápio alimentos hipercalóricos (álcool, massa, doces, carnes gordurosas etc.) fará o mesmo efeito daqueles 15km de exercícios.

A mídia do binômio ‘corpo + saúde’, no entanto, martela a todo momento o ‘santo graal’ do emagrecimento: praticar exercício. Claro que ser saudável inclui não ser sedentário. Mas, quando a questão é perder peso, em quantidades consideráveis de quilos, ingerir menos calorias é o que conta. Simples assim.

Carroll cita estudos e resultados que a mídia não costuma trazer: i) quem se exercita, com o tempo, passa a queimar menos calorias e… aumentar a ingestão de calorias; ii) quando você faz dieta, seu metabolismo diminui, e os exercícios não influenciam muito nessa queda – a queda do metabolismo é uma reação do corpo a um ambiente no qual parece faltar alimento.

O óbvio: dieta e exercício terão resultado melhor do que um em separado. Mas a diferença, segundo estudos, não é lá muito significativa: cerca de 1kg a 1,5kg por ano a mais do que o caso em que só há dieta.

Carroll reconhece outro aspecto óbvio do assunto: fazer dieta ou exercícios não é fácil. Mas, segundo ele, “se as pessoas gastassem apenas a metade do tempo que gastam se exercitando para tentar mudar o modo como cozinham, elas provavelmente veriam resultados muitos melhores [na perda de peso]”.

Você leu apenas parte da matéria publicada na CH 329. Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista e ler o texto completo.

 

Cássio Leite Vieira
Instituto Ciência Hoje/ RJ

Comentário (1)

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