É bem improvável que o leitor esteja vendo cada uma das letras ou palavras desta breve nota com cores distintas. Se sim, dois avisos: i) elas estão em tinta preta; ii) é provável que o leitor seja portador de um quadro que acomete menos de 1% da população mundial: a sinestesia, sobre a qual há novidades.

A sinestesia, que tem raízes familiares, é tão estranha quanto desconhecida. Sua versão mais comum parece ser a chamada sinestesia auditiva: a pessoa vê cores quando escuta sons. Mas há também quem veja cores ao ler, sentir cheiros, enxergar formas ou tocar objetos. A lista de ‘deflagradores’ é longa.

Agora, um experimento conseguiu cercar, para a sinestesia auditiva, os genes responsáveis por esse transtorno, que parece não prejudicar a vida dos portadores (pelo contrário, muitos alegam que não conseguiriam viver sem a sinestesia). Os resultados, apresentados no American Journal of Human Genetics por Julian Asher, do Imperial College de Londres, oferecem um tipo de caminho das pedras genético para entender um pouco mais desse misterioso fenômeno cerebral.

As evidências apontam o cromossomo 2 como o principal, enfraquecendo a hipótese que liga o quadro ao cromossomo X. É interessante notar, como ressaltam os autores, que o cromossomo 2 já foi ligado ao autismo. Nesse quadro em que os indivíduos apresentam dificuldades de comunicação com o mundo exterior, ocorrem, por vezes, anormalidades sensoriais e de percepção, como a sinestesia.

Além do cromossomo 2, constam da lista de Asher e colegas o 5, o 6 e o 12. Mais ainda: regiões apontadas como suspeitas pelo estudo já foram associadas à epilepsia e à dislexia. No fundo, o quadro é mais complexo do que se pensava.

Há uma longa lista de sinestésicos famosos. Exemplos: o escritor russo Vladimir Nabokov (1899-1977), autor do famoso romance Lolita; o físico norte-americano Richard Feynman (1918-1988), ganhador do Nobel de Física de 1965; o músico húngaro Franz Liszt (1811-1886), um dos maiores virtuoses do piano de todos os tempos.

Em tempo: esta coluna descobriu (por acaso) que Asher é sinestésico auditivo.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ

 

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