Vista do morro de Araçoiaba, que marca a paisagem da Floresta Nacional de Ipanema.

A Floresta Nacional de Ipanema é uma das poucas unidades de conservação federal do estado de São Paulo. Um marco na história do Brasil, a área tem sofrido modificações desde a chegada do homem branco à região, no final do século 16. O local foi alvo de várias tentativas de exploração de riquezas minerais, que se intensificaram com a criação, no início do século 19, do Estabelecimento Montanístico das Minas de Ferro de Sorocaba.

Nos últimos dois séculos, prosseguiram as alterações impostas por atividades humanas. A floresta foi visitada por importantes naturalistas que percorreram o Brasil no século 19, como o alemão Johann Spix (1781-1826) e o austríaco Johann Natterer (1787-1843). Embora a flora e a fauna da região tenham sido bem documentadas por esses viajantes, ainda há muito a se fazer para que sejam amplamente conhecidas e protegidas.

Desde que chegou a Ipanema, o homem branco tem exercido forte pressão sobre o morro de Araçoiaba. A descoberta de minério de ferro no final do século 16 suscitou a instalação de um grande empreendimento para explorar o metal. A vegetação do morro sofreu com a abertura de cavas de mineração e com o corte seletivo da mata para alimentar os fornos da Real Fábrica de Ferro de Ipanema e para uso na construção civil e naval. Sofreu também com a exploração da apatita para produção de fosfato, com a derrubada da mata para implantação de atividades agrícolas e até com o represamento de cursos d’água para lazer e abastecimento, como é o caso da represa de Hedberg, uma das mais antigas do Brasil.

Ipanema viveu três grandes ciclos histórico-ecológicos. O primeiro diz respeito à exploração do minério de ferro, que durou quase três séculos. Nesse período preservou-se parte das matas, com o objetivo de garantir recursos florestais para a produção do carvão usado nos fornos da usina de ferro. Um segundo ciclo surgiu no início do século 20, com a exploração das reservas de apatita. Muitas áreas foram desmatadas e minas abertas, reduzindo substancialmente a biodiversidade local.

O terceiro ciclo caracterizou-se por investimentos agrícolas. Sob administração do Ministério da Agricultura, Ipanema abrigou vários projetos destinados à melhoria do sistema agrícola nacional. No final dos anos 1940, instalou-se o Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema, transformado, nos anos 70, no Centro Nacional de Engenharia Agrícola. Nesse período, novas áreas foram desmatadas para dar lugar a plantações experimentais e pistas de ensaios de máquinas agrícolas. À época teve início a exploração de calcário, que nos últimos 50 anos devastou ainda mais o morro de Araçoiaba.

Ipanema vive hoje um quarto ciclo histórico-ecológico, de preservação do meio ambiente, iniciado com o repasse, em 1992, de grande parte da Fazenda Ipanema para o Ministério do Meio Ambiente. Desde então a área se tornou uma unidade de conservação federal. Apesar do cunho ecológico que marca esse período e da proteção garantida a florestas nacionais, a região enfrenta problemas que podem comprometer sua integridade. Ipanema destaca-se como importante local para a implantação de novos estudos ecológicos, pois permite que se compare sua situação ao longo do tempo, o que não pode ser feito na maioria das áreas protegidas.

Dos naturalistas que visitaram Ipanema, von Natterer foi o que ali permaneceu mais tempo: cerca de 800 dias. Nesse período, registrou 108 espécies arbóreas e coletou representantes de 343 espécies de aves e de 70 espécies de mamíferos, além de diversos peixes e invertebrados. Passado o período das expedições do século 19, Ipanema só foi alvo de novos estudos faunísticos e florísticos no início da década de 1990, graças à criação da unidade de conservação. A fauna e a flora de sua floresta nacional começaram a ser novamente estudadas por meio de parcerias firmadas entre várias universidades do país. Esses novos estudos têm permitido que se conheça melhor a atual situação histórica, ecológica e biológica da região.

Welber S. Smith,
Universidade Paulista (campus Sorocaba)
e Instituto Manchester Paulista de Ensino Superior (Sorocaba),
e Luciano B. Regalado,
Instituto Chico Mendes

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