Quais são as especificidades do terrorismo contemporâneo? Em que lugares e de que maneiras se manifesta? Há terrorismo no Brasil? Estas são algumas das questões que vêm sendo estudadas pelo Grupo de Acompanhamento e Análise do Terrorismo Internacional (Gaati), coordenado pelos historiadores Francisco Carlos Teixeira da Silva e Alexander Zhebit, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O grupo pretende desenvolver um olhar brasileiro sobre o tema, deixando de ‘importar’ conceitos de outros países. Ainda que nunca tenhamos sofrido qualquer ação do gênero, buscamos adequar esses conceitos à nossa realidade”, diz Silva.

Formado por alunos de pós-graduação e graduação de áreas como história, ciências sociais, direito e relações internacionais, seu campo de pesquisa é o neoterrorismo, fenômeno que teve como marco inicial o primeiro atentado ao edifício das Torres Gêmeas (World Trade Center, em Nova York, Estados Unidos), em 1993. A partir daí, as ações terroristas pelo mundo adquiriram uma face bastante diferente da que havia anteriormente.

Atualizado diariamente, o mapa interativo fornece dados (em inglês) sobre os atentados ocorridos nas principais cidades do mundo. (Crédito: Gaati)

“O conceito do neoterrorismo vincula-se às ações de grupos radicais islâmicos e designa a violência de massa, que atinge as multidões civis. Sua linguagem política difere da de grupos como, por exemplo, o basco ETA, cujos alvos eram autoridades governamentais e que raramente produzia grande número de mortos”, distingue Arthur Bernardes do Amaral, mestrando de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e um dos 11 integrantes do grupo. Suas motivações são também diferentes, pois sua luta se volta contra a sociedade ocidental em seu conjunto. Outra característica do movimento é o aproveitamento da velocidade de propagação da mídia para instaurar o medo generalizado. “Com isso, colocam sob ameaça um dos ideais mais valorizados pelo Ocidente: a liberdade individual”, observa Amaral.

Atualização diária
Como forma de dar maior visibilidade ao tema, o Gaati criou um mapa para ilustrar espacialmente as ações terroristas ocorridas desde 1993. O mapa do terrorismo internacional é atualizado diariamente com base em informações de agências de notícias internacionais e pode ser consultado na página do grupo na internet . “Ele serve também como um chamariz para que as pessoas interessadas em maior aprofundamento leiam os artigos que produzimos”, afirma Bárbara Lima, mestranda de história comparada na UFRJ, líder de pesquisa do grupo.

Outra iniciativa, nesse sentido, é a elaboração de um glossário do terrorismo, que em breve será adicionado à página virtual. O funcionamento do mapa é bem simples: clicando em cima dos balões vermelhos, localizados em diversas cidades do mundo, é possível obter informações a respeito do número de atentados terroristas já ocorridos naquela localidade, a data, os autores dos ataques, as armas utilizadas e o número de vítimas.

Os ataques comandados pelo narcotráfico na América Latina, bem como as facções criminosas brasileiras, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, também estão representados. Arthur Amaral ressalta, porém, que terrorismo e narcotráfico são fenômenos completamente distintos. “Enquanto as motivações do terrorismo são essencialmente políticas, as do crime organizado são estritamente econômicas.

Nos últimos anos, os Estados Unidos vêm tentando definir as práticas do crime organizado como terroristas para assim conseguir plena liberdade para combatê-lo. A principal semelhança entre os dois é o fato de serem organizações não-governamentais cujas ações atingem diretamente a população civil”, esclarece Amaral.

O Gaati integra o Laboratório de Estudos do Tempo Presente (Tempo) e conta com o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Andressa Spata
Ciência Hoje/RJ

 

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