De 1 a 3 milhões de pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido à infecção com os parasitas do gênero Plasmodium , agentes causadores da malária. Apesar disso, pesquisas relacionadas à doença não são contempladas com financiamentos da mesma ordem de grandeza de outros males, como a Aids. Só os Institutos de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) investem aproximadamente US$ 500 milhões no desenvolvimento de uma vacina contra o HIV. Esse valor sobe até US$ 800 milhões se contabilizadas as contribuições mundiais. Em contraste, o estudo equivalente para a malária conta apenas com US$ 65 milhões.
 
Corrigir essa distorção é o trabalho do programa não-governamental Iniciativa da Vacina da Malária (MVI, na sigla em inglês), da organização não governamental norte-americana Path. A diretora da MVI, a microbióloga norte-americana Melinda Moree, esteve no Brasil em junho último para o 6 o Fórum Global de Pesquisa sobre Vacinas.
 

O mosquito Anopheles funestus é um dos mais importantes vetores da malária na África, onde se concentram mais de 80% dos casos e mortes da doença. No Brasil, esse papel é desempenhado pelo A. darlingi . (foto:CDC/James Gathany,Frank Collins, Univ. Notre Dame)

Moree deixa claro que não se trata de desviar dinheiro da pesquisa sobre Aids para a da malária. “Não há excesso de recursos financeiros no combate ao HIV, mas existe relativamente pouca verba direcionada para a luta contra o Plasmodium ”, compara. Para ela, isso acontece porque a Aids está presente no mundo inteiro e, portanto, as pessoas estão conscientes do problema – há mobilizações, campanhas etc. No caso da malária, a situação é diferente, já que a doença está concentrada nas áreas pobres do planeta. “Muitos daqueles que poderiam fazer algo simplesmente não sabem o bastante sobre o que está acontecendo”, afirma Moree.

 
Apesar de fazer campanha pela vacina, a microbióloga entende que essa é apenas uma das possíveis maneiras de se combater a malária. O uso de drogas contra o parasita, e de mosquiteiros e inseticidas contra os mosquitos transmissores, do gênero Anopheles , são ações que completam a iniciativa da MVI. “Pessoalmente, me concentro na vacina porque quero parar a alta mortalidade infantil causada pela doença, mas sei que só isso não vai resolver todo o problema”, observa Moree.
 
Otimismo na vacina
A MVI foi criada em 1999 com o objetivo de acelerar o desenvolvimento de uma vacina para a malária que auxiliasse as vítimas mais necessitadas, como os africanos, especialmente as crianças. O principal financiador da organização é a Fundação Bill & Melinda Gates, responsável pela doação de US$ 50 milhões para a criação da MVI. O montante aumentou com os anos, de modo que o programa hoje contribui com mais de 20% do dinheiro usado nas pesquisas da vacina. “Atualmente, a situação é bem melhor, com diversos testes em andamento”, conta Moree.
 
O mais avançado desses é o da vacina RTS,S/AS02A, desenvolvida pela empresa britânica GlaxoSmithKline (GSK) e parcialmente financiada pela MVI. Testada em Moçambique, na África, no ano passado, ela foi capaz de proteger contra a forma mais severa da doença 58% das crianças entre um e quatro anos de idade. “Ao contrário da idéia padrão de vacina, a da GSK não impede a infecção, mas torna os sintomas mais brandos”, informa a diretora do programa.
 

Embora a GSK seja uma companhia particular, que visa lucros, Moree diz que a MVI está atuando junto com a empresa para que uma futura vacina seja vendida a preços acessíveis. Além disso, ela vem mobilizando a comunidade internacional no sentido de fazer com que esse e outros produtos cheguem às populações carentes. Segundo a microbióloga, a vacina testada em Moçambique ainda precisa passar pela fase 3 de testes clínicos. Ela acredita que ainda seriam necessários, pelos menos, mais cinco anos até a substância poder ser disponibilizada.

Fred Furtado

Ciência Hoje/RJ

 

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