“Tuberculose tem tratamento e tem cura.” Essa consciência, mais que uma simples frase, tem guiado as ações de controle da doença implantadas nos últimos anos pelo governo brasileiro. O Brasil é signatário dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aprovados em 2000 por 191 países integrantes da Organização das Nações Unidas. Os compromissos listados nesse documento têm como focos a sustentabilidade do planeta e a melhoria da qualidade de vida das populações humanas.
Entre as metas incluídas nos Objetivos estava a de reduzir, até 2015, a propagação de algumas doenças epidêmicas, entre elas a tuberculose, e as mortes provocadas por elas. No caso da tuberculose, essa redução permitiria pensar na erradicação da doença a partir de 2035.
E o Brasil obteve, nos últimos 15 anos, uma redução de 25% no número de casos novos e de 38% no número de mortes, de acordo com o Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Pode-se acreditar que a inclusão social de camadas mais pobres tenha contribuído de maneira substancial para esse declínio.
Entretanto, apesar dos avanços dos últimos anos, o país permanece entre os 22 com mais alta carga de tuberculose no mundo: 70 mil casos novos e 4,4 mil mortes em 2012. Cerca de 20% dos casos identificados no país ocorrem em São Paulo: em 2013, nesse estado, foram notificados 16,4 mil casos, correspondendo a uma incidência de 38,1 casos por 100 mil habitantes – o que revela um declínio de 22,2% em 11 anos. No Brasil, a taxa de incidência por 100 mil habitantes caiu de mais de 44,4 em 2003 para 35,8 no ano passado, mesmo com a ampliação e melhoria do sistema de diagnóstico.
A tosse de duração prolongada (mais de três semanas) é o sintoma mais importante da tuberculose pulmonar bacilífera, forma que transmite a doença. Portanto, identificar rapidamente os pacientes que apresentam essa forma é o método mais eficiente de diminuir a transmissão.
Para isso, sempre que houver suspeita da doença, o indivíduo deve ser submetido ao exame de escarro (baciloscopia) ou ao método rápido molecular, que fornece o diagnóstico em algumas horas, adotado mais recentemente no Brasil.
Nos casos de novo tratamento, seja por nova infecção (recidiva) ou por retorno da doença após abandono do tratamento, e também em todo paciente portador do vírus da Aids (ou de outras doenças que o deixem enfraquecido), a baciloscopia deve ser complementada por cultura de material biológico e teste de sensibilidade aos fármacos comumente usados contra a tuberculose.
Outra indicação, como método auxiliar de diagnóstico, é a radiografia do tórax. A tuberculose pulmonar, que representa 80% dos casos da doença, geralmente é acompanhada de febre baixa, emagrecimento, falta de apetite, cansaço fácil e suores noturnos.
Embora a porta de entrada da doença seja o aparelho respiratório, a tuberculose pode se instalar em qualquer parte do corpo. Pode estar disseminada nos pulmões (é a tuberculose miliar ou linfo-hematogênica) ou atingir locais específicos (tuberculose pleural, ganglionar periférica, osteoarticular, geniturinária, meningoencefálica e outras).
Fármacos em teste
Medicamentos contra a tuberculose vêm sendo produzidos e disponibilizados há pelo menos seis décadas no mercado internacional. Após a Segunda Guerra Mundial, foi lançada a estreptomicina (1944), seguida do ácido paramino-salicílico (PAS, 1946), da isoniazida (INH, 1952), da pirazinamida (PZA, 1952) e da rifampicina (RMP, 1967).
Portanto, apesar dos avanços tecnológicos no diagnóstico, há mais de 40 anos (desde a RMP) não são descobertos novos compostos capazes de tratar a doença. A associação de rifampicina e isoniazida permanece sendo o mais potente bactericida contra o Mycobacterium tuberculosis sensível.
Na atualidade, a pesquisa nesse campo vive um momento muito especial, com sete novos fármacos sendo testados para uso clínico, em diferentes fases de estudo. Alguns desses fármacos, como etilenodiamina Q109 e pirrol LL3858, já foram testados em estudos pré-clínicos de fase 1, que avalia (em laboratório) sua segurança e eficácia.
Outros compostos, como fluoroquinolonas, nitroimidazólicos, PA-824 e delamanid, estão nas fases 2 e 3, que verificam a eficácia contra a doença-alvo em voluntários, e dois (linezidole e bedaquilina) já foram testados em ensaios clínicos maiores com pacientes.
A bedaquilina, fármaco de classe nova e com novo mecanismo de ação, foi aprovada pela Agência de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos no final de 2012 e está disponível para o tratamento de formas multirresistentes da doença. O uso clínico dos demais (exceto os derivados na quinolona) deve demorar no mínimo de dois a três anos.
Margareth Pretti Dalcolmo
Centro de Referência Professor Hélio Fraga
Escola Nacional de Saúde Pública
Fundação Oswaldo Cruz