Vista do espaço, a Terra apresenta uma tonalidade azulada, devida à presença dominante dos oceanos, que cobrem dois terços de sua superfície. Essa característica nos distingue dos outros corpos celestes conhecidos e bem estudados.

Chamada de ‘planeta azul’, a Terra é produto casual da evolução do sistema solar, que conferiu a seu terceiro planeta uma situação astronômica ideal e uma configuração geológica singular, que convergiram para gerar a água, os mares e a vida.

O mar esteve, muitas vezes, ligado ao desenvolvimento das civilizações humanas, que exploraram seus recursos – sejam alimentos (peixes e moluscos) ou produtos básicos (sal) – e o usaram como via de transporte (navegação). Mais recentemente, os oceanos e os organismos que neles vivem têm servido como fonte de fármacos e de energia alternativa.

Não se pode explorar as águas profundas nem ascaracterísticas dos fundos marinhos sem um equipamento altamenteespecializado

A exploração do mar teria começado no período Neolítico, 12 mil anos antes do presente, pois anzóis primitivos encontrados em estudos arqueológicos em áreas costeiras datam dessa época. O mar está presente também em crenças e lendas antigas, como a do grande dilúvio. 

A invenção das embarcações permitiu a navegação costeira e depois a oceânica, levando ao descobrimento de novas terras. Só na segunda metade do século 20, porém, as novas tecnologias trazidas pelos satélites artificiais possibilitaram o conhecimento da cobertura completa do planeta.

No que se refere ao meio oceânico, as tentativas de reconhecimento do relevo submarino, da dinâmica interna dos mares e de sua comunidade biológica ocorreram sucessivamente, embora de início com resultados modestos ou praticamente nulos.

Faltavam as tecnologias adequadas. Não se pode explorar as águas profundas dos oceanos nem as características dos fundos marinhos sem um equipamento altamente especializado. São necessárias novas tecnologias para que os investigadores possam estudar o ambiente, muitas vezes perigoso, do fundo do mar.

Esponjas no mar cearense
Uma das imagens obtida pelo minissubmarino, sob luz natural, registra a ocorrência de esponjas em profundidades superiores a 40 m no mar cearense. Esses organismos podem ser indicadores de antigos ambientes marinhos (imagem cedida pelos autores).

Controle remoto

Na atualidade, as pesquisas sobre os recursos do mar, minerais ou biológicos, mostram uma nova vertente: o uso de veículos especiais (minissubmarinos) para obter imagens do fundo marinho. Um desses veículos submergíveis de operação remota, mais conhecidos pela sigla ROV (do inglês remotely operated vehicle), vem sendo utilizado em estudos marinhos na costa do Ceará.

Veículos especiais obtém imagens do fundo marinho

A plataforma continental, área do fundo oceânico mais próxima dos continentes, contém valiosos recursos naturais (pescado, petróleo e outros) e, por isso, tem grande importância ecológica, geológica, econômica e política. Nas últimas décadas, o governo brasileiro tem se esforçado para tentar conhecer todos os recursos vivos e não vivos dessa região.

A primeira iniciativa nesse sentido, na década de 1970, foi o Projeto de Reconhecimento Global da Margem Continental (Projeto Remac), centrado basicamente nos recursos não vivos. Na década de 1990, com o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva (Programa Revizee), foi iniciado um levantamento amplo e sistemático dos recursos biológicos do país.

Mergulhador encontra Recife
Recife submerso registrado pela primeira vez, localizado a uma profundidade de 23 m e a 30 km da costa do município cearense de Icapuí (foto: Eduardo Freitas).

A zona econômica exclusiva é a faixa que, seguindo o contorno do litoral, começa a 12 milhas marítimas da costa (22,2 km, limite do mar territorial) e vai até 200 milhas (370,4 km). Nos dois programas, a participação de universidades de todo o Brasil foi determinante para a realização dos objetivos propostos.

O Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará, participou desses projetos pioneiros e, nos últimos anos, vem ampliando e detalhando os estudos sobre a cobertura de sedimentos da parcela mais rasa da plataforma continental e da flora e fauna associadas a ela. Essa parcela tem largura média de 60 km, com declividade média de 1 m a cada quilômetro.

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Leonardo Hislei Uchôa Monteiro e Luis Parente Maia
Laboratório de Dinâmica Costeira,
Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará

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