A primeira brasileira a ganhar o ‘Nobel’ da agricultura

Jornalista, especial para a Ciência Hoje

Agrônoma premiada por tecnologia que usa adubo biológico para aumentar produção de alimentos, Mariangela Hungria mira no melhor aproveitamento de pastagens para reduzir desmatamento

CRÉDITO: FOTO: GERARDO LAZZARIL/DIVULGAÇÃO

Na década de 1960, com uma população em crescimento exponencial, o mundo se preocupava com uma crise geral no fornecimento de alimentos. À época, o agrônomo estadunidense Norman Borlaug (1914-2009) descobriu, em trabalhos com milho e trigo, que era possível melhorar a oferta de nutrientes às plantas por meio de adubação química pesada, principalmente com nitrogênio, e aumentar a produção de alimentos. Foi a chamada Revolução Verde, que tirou milhões de pessoas da fome, diminuiu as projeções alarmantes de fome generalizada e rendeu um Prêmio Nobel da Paz a Borlaug em 1970. Poucos anos depois, cursando universidade, a engenheira agrônoma Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, planejava outra revolução. 

“Entrei na faculdade de engenharia agronômica da USP em 1976, no auge da Revolução Verde, e só se falava em químicos. O uso de produtos biológicos na adubação era desacreditado, e se pensava que, se funcionasse, seria em pequena escala, numa agricultura familiar, não no tipo de agricultura que o Brasil buscava e tentava se tornar liderança como era com os químicos. Mas nunca desisti”, lembra a pesquisadora, membro da diretoria da Academia Brasileira de Ciências.

Graças à persistência e à tecnologia de fixação biológica de nitrogênio que desenvolveu em mais de 40 anos dedicados às pesquisas, Mariangela foi laureada em maio com o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), conhecido como o “Nobel da agricultura”. Foi a primeira brasileira agraciada, a décima mulher desde a primeira edição, em 1985. 

“Foi uma honra que jamais poderia esperar. Em boa parte, acho que foi um reconhecimento por ter insistido”, conta. “Quando você começa a carreira, está cheia de energia e deseja um futuro. E, quando todos dizem que não acreditam, isso deveria desanimar. Mas para mim funcionou como um desafio. Decidi mostrar que funcionaria”. 

Da faculdade ao mestrado, e ao doutorado, Mariangela encontrou outras mulheres que acreditavam na mesma linha de pesquisa, e eram referência nela, como Johanna Döbereiner (1924-2000). Hoje, o Brasil é líder no uso de produtos biológicos na agricultura. 

Quando você começa a carreira, está cheia de energia e deseja um futuro. E, quando todos dizem que não acreditam, isso deveria desanimar. Mas para mim funcionou como um desafio. Decidi mostrar que funcionaria

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