No Parque da Cidade, em Belém, a COP foi dividida entre dois espaços. O primeiro, de acesso restrito, foi chamado de Blue Zone (Zona Azul), onde as negociações diplomáticas aconteceram. O segundo, de acesso livre, era a Green Zone (Zona Verde), aberta para a sociedade civil, empresas e diversas instituições. Caminhar por esses setores revelava as potências e os limites do que estava sendo discutido.
Pelos corredores da Zona Verde, havia stands de bancos e de várias empresas, algumas das quais diretamente envolvidas no debate sobre energia – como a Itaipu Binacional – e água – como a Águas do Pará. Entidades do Estado também marcaram presença, como a Defensoria Pública da União, o Consórcio Interestadual Amazônia Legal e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Uma das tônicas dos debates nessa zona era a transição energética. Algumas situações chamaram a atenção.
A empresa de tecnologia Nabat.ai, dos Emirados Árabes Unidos – um dos maiores produtores de petróleo do mundo –, prometia utilizar inteligência artificial aliada à robótica para restaurar e monitorar ecossistemas naturais, inclusive, com dispersão de sementes via drone. A popularização do argumento de que o uso da inteligência artificial pode ser o grande aliado da preservação do meio ambiente é problemática, entre outros motivos, porque a difusão dessa tecnologia consome quantidades vultosas de água nos seus centros de dados.
No stand ‘Amapá na COP 30’, no dia 14 de novembro, o debate foi sobre energias renováveis. Foi, então, disponibilizada a publicação do Atlas solar do estado. O Amapá é um dos estados que teria mais ganho financeiro com a exploração do petróleo na margem equatorial brasileira, e o Atlas solar divulgado se iniciava com uma “mensagem do senador”, de autoria de Davi Alcolumbre (União Brasil), um dos maiores entusiastas da prospecção de petróleo nesse trecho do litoral.
No stand da Assembleia Legislativa do Pará, naquele mesmo dia, o deputado Wescley Tomaz, do Partido Social Cristão (PSC), deu uma palestra com o título ‘A força do garimpo sustentável: como a regularização reduz impactos e gera renda na Amazônia’, na qual defendeu que se está financiando, por meio de organizações não governamentais (ONGs) e outras instituições, o atraso do povo brasileiro. “Dizer que o Brasil não preserva o meio ambiente é uma das mentiras que a gente precisa derrubar”, afirmou. “Como a gente gostaria de poder ter ambientalistas aqui para confrontar essa tese de que o Brasil não faz a sua parte”, provocou.
Pouco tempo depois, o deputado recebeu o vereador por Belém Zezinho Lima, do Partido Liberal (PL), que andava pela Zona Verde em silêncio, com um porrete de plástico na mão, um prendedor de gravata de metralhadora e um conjunto de seguranças que ostentavam broches de caveira.
Já na Zona Azul, chegavam notícias sobre o andamento das negociações em torno da elaboração do ‘mapa do caminho’ (roadmap, em inglês). Essa proposta inédita, elaborada pelo governo brasileiro, pretendia ser uma marca desta COP e propunha uma metodologia de transição gradual e justa dos combustíveis fósseis para fontes de energia mais limpas e renováveis, e de eliminação do desmatamento até 2030.
Embora um mapa do caminho para a transição energética não estivesse na agenda oficial do evento, o tema ganhou força com o apelo do presidente Lula, durante a Cúpula dos Líderes. No entanto, ao longo da conferência, os rascunhos de textos finais não incluíam esse mapa do caminho, e foram considerados insuficientes por um grupo que divulgou carta aberta no dia 19 de novembro.