Obra resgata histórias nem sempre contadas ou conhecidas por trás de descobertas científicas e explora a ação do acaso, do inusitado e até do erro nos processos de pesquisa
Obra resgata histórias nem sempre contadas ou conhecidas por trás de descobertas científicas e explora a ação do acaso, do inusitado e até do erro nos processos de pesquisa
Bastidores da Ciência
Leandro Lobo
Editora ICH, 2025, 162 p.
Qual foi o papel do acaso na descoberta do primeiro antibiótico capaz de tratar infecções causadas por bactérias? Como o fentanil, uma droga inovadora descoberta para combater a dor, tornou-se um dos maiores problemas de saúde pública do mundo? Quando a toxina botulínica passou de veneno a tratamento estético? Por que a cientista que descobriu a vacina contra a poliomielite morreu sem receber nenhum prêmio importante? Cada resposta guarda uma história, e todas elas (e muitas mais) estão reunidas no livro “Bastidores da Ciência” (Editora ICH), escrito por Leandro Lobo, editor científico do Instituto Ciência Hoje e professor do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes da UFRJ.
Derivada da sessão Bastidores da Ciência, assinada por Lobo na revista Ciência Hoje, a obra resgata relatos do passado que explicam a ciência do presente e lançam pistas para o futuro, numa homenagem, sem estereótipos, aos pesquisadores que tornam possíveis avanços e descobertas científicas.
“São histórias sobre as pessoas que fazem a ciência, longe dos clichês do cientista sentado num laboratório, ou em frente a um quadro olhando equações matemáticas. Cientistas são pessoas comuns, com suas vidas particulares. A ciência, afinal, é uma empreitada humana”, explica o autor, que há anos pesquisa e reúne esse material.
Assim os leitores descobrem a história de William Dampier (1651-1715), um pirata-cientista que fascinou Charles Darwin (1809-1882), do promissor farmacêutico Wilbur Scoville (1865-1942), que iniciou na carreira fazendo entregas, lavando o chão e limpando vitrines, ou da grande fraude do homem de Piltdown e tantas outras.
“Quando as pessoas leem uma notícia sobre uma descoberta, nem sempre imaginam a quantidade de peças que têm que se encaixar para formar esse quebra-cabeça. Muitos relatos não chegam ao grande público. E há achados que podem vir de um erro ou de uma coincidência”, diz.
O foco de “Bastidores da Ciência” é justamente esse, as histórias nem sempre contadas ou conhecidas amplamente, e que mostram também a ação dos equívocos, do contexto da época e até do acaso por trás dos feitos científicos. Foi assim na invenção do ar-condicionado ou na busca por um medicamento para tratar doenças do coração, que levou pesquisadores britânicos a chegarem a uma droga capaz de agir contra a disfunção erétil.
São histórias sobre as pessoas que fazem a ciência, longe dos clichês do cientista sentado num laboratório, ou em frente a um quadro olhando equações matemáticas. Cientistas são pessoas comuns, com suas vidas particulares. A ciência, afinal, é uma empreitada humana
A descoberta da vacina contra o tifo, doença causada por uma bactéria da espécie Rickettsia prowazekii, presente nas fezes do piolho – isso mesmo! – veio de um método inusitado e engenhoso, desenvolvido pelo bacteriologista e zoólogo polonês Rudolf Weigl (1883-1957). Ele incluía, diz o livro, criar piolhos em laboratório e alimentar os parasitas saudáveis por cerca de 12 dias, depois contaminar os piolhos com R. prowazekii e, na sequência, providenciar que se alimentassem por mais cinco dias em humanos, sim, em humanos!
Para isso, Weigl usava gaiolas de metal que ficavam amarradas nas coxas e panturrilhas de voluntários. O mais curioso é que assim o pesquisador ajudou a proteger centenas de pessoas da morte nas mãos da polícia secreta nazista. Era época da Segunda Guerra, e os voluntários eram judeus da resistência polonesa e intelectuais. Os nazistas tinham pavor de se aproximar dos voluntários com essas gaiolas. Da mesma forma, Weigl enviou milhares de doses da vacina para os guetos judeus, enquanto diluía a vacina que enviava para as tropas alemãs, de forma que neste caso seria menos eficaz.
As guerras, aliás, aceleraram muitas pesquisas e tornaram urgentes novas descobertas, mostra o livro. E criaram oportunidades inesperadas, como foi a história da busca pela produção em massa do primeiro antibiótico capaz de tratar infecções bacterianas, a penicilina. Ela passa por uma grande guerra e um enorme esforço coletivo da ciência, com cientistas de diferentes áreas, que não ganharam um Nobel, mas permitiram salvar milhões de vidas durante a Segunda Guerra Mundial e desde então.
Outras histórias remetem aos erros que, afinal, também fazem parte da ciência: o livro traz uma fake news arqueológica, explica a injusta fama do ácido lático e conta o erro de Linus Pauling (1901-1994), químico estadunidense que formulou uma teoria equivocada sobre a estrutura do DNA que, segundo ele, seria em forma de tripla hélice, não de dupla, como no modelo correto.
“É uma história curiosa de um ganhador do prêmio Nobel por duas vezes que comete um erro básico que ninguém esperava. Isso mexe com a ideia dos cientistas como gênios infalíveis”, diz Lobo.
As guerras, aliás, aceleraram muitas pesquisas e tornaram urgentes novas descobertas, mostra o livro.
Embora ocorridos há muitos anos, outros fatos citados no livro seguem relevantes, como a luta das mulheres cientistas para terem seus feitos reconhecidos. Lobo cita o caso do efeito Matilda, por exemplo, fenômeno que descreve casos de pesquisadoras que deixaram de receber reconhecimento por suas descobertas e que foram preteridas em relação a pesquisadores homens.
O efeito Matilda foi descrito pela historiadora Margaret Rossiter, hoje com 80 ans, em menção a Matilda Joslyn Gage (1826-1898), líder do movimento sufragista no século 19 que não recebeu os devidos créditos à sua época. Os mesmos obstáculos foram enfrentados pela pioneira da biologia molecular, a cientista alemã Marguerite Vogt (1913-2007), que descobriu a vacina contra a poliomielite, pela geneticista estadunidense Nettie Stevens (1861-1912), pela dinamarquesa Inge Lehmann (1888-1993), que quase abandonou a ciência após sofrer preconceito de gênero, e por tantas outras, até hoje.
“Outra história representativa é da mulher que descobriu do que é feito o sol. Cecilia Payne-Gaposchkin (1900-1979) fez um trabalho incrível que nos ajuda a entender a composição estelar, mas sofreu muito para obter esse reconhecimento”, conta Lobo. “Como essas, há muitas questões que ainda não conseguimos resolver. São histórias do passado que continuam muito atuais”, diz.
Lobo afirma que a ciência é o acúmulo de conhecimento, sempre na busca por dar um passo adiante. Ao reforçar as histórias de diversidade e inclusão, diz, autor e livro destaca a importância de uma ciência mais diversa para que no futuro seja também mais rica. Seriam boas histórias para um “Bastidores da ciência 2”.
Lobo afirma que a ciência é o acúmulo de conhecimento, sempre na busca por dar um passo adiante.
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