Em agosto de 2005, quando os astronautas do ônibus espacial Discovery retornaram à Terra, a comandante Eileen Collins chamou a atenção para o ritmo acelerado do desmatamento no planeta, facilmente observado do espaço. Ao longo de sua existência, e principalmente nas últimas três décadas, o homem consumiu cerca de metade do recurso florestal existente no mundo e as taxas de desmatamento não param de crescer.

O Brasil destaca-se nesse cenário tanto por ter a maior floresta tropical do mundo quanto por ser líder mundial em desmatamento. O agronegócio, a exploração madeireira irracional e a especulação fundiária são as causas desse processo. Entre os estados, o Mato Grosso responde por quase 50% do desmatamento anual na Amazônia brasileira. A julgar pelo que ocorre no presente, as projeções futuras apontam para um cenário ambientalmente catastrófico para esse estado, que chegará a 2020 com menos de 23% da sua cobertura florestal original.

Os humanos desmataram em média 16,1 milhões de hectares (ha) por ano no mundo – 15,2 milhões somente nas regiões tropicais – durante a década de 1990, segundo o relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) em 2000. Isso significa que 4,2% de todas as florestas existentes no mundo em 1990 foram derrubadas até 2000.

Se levarmos em conta apenas o desmatamento ocorrido em floresta tropical, esse percentual sobe para 7,8%. Para que se entenda melhor a dimensão do problema, a taxa de desmatamento mundial entre 1990 e 1995 foi da ordem de 33 campos de futebol a cada minuto.

Em 2000, o total de florestas remanescentes no mundo era de 3,9 bilhões de ha – 95% em florestas naturais e 5% em florestas plantadas. Dessas florestas, cerca de 47% ocorrem em região tropical, 9% em região subtropical, 11% em zona temperada e 33% em regiões boreais (florestas de coníferas acima de 50 graus de latitude, no hemisfério Norte).

Os números do desmatamento

Imagem da porção centro-norte da América do Sul com o arco do desmatamento – indicado em vermelho – na Amazônia Legal brasileira (fonte: D. Ferreira, com dados do Prodes / Inpe e SRTM / Nasa).

Mais de um terço do total de florestas tropicais existentes no mundo está localizado na Amazônia brasileira. Se contabilizarmos apenas as áreas de mata contínua, onde a presença do homem é mínima e a floresta permanece praticamente intacta, o Brasil responde por mais da metade do total mundial. Essa riqueza, porém, tende a desaparecer.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até 2005 foi desmatada uma área de 699,2 mil km 2 . Isso equivale a 17,5% da Amazônia brasileira ou 1,3 vezes o território da França. Somente em 2004 foram devastados 23.750 km 2 de florestas na região amazônica – o que equivale, em média, a 4,51 campos de futebol por minuto.

A derrubada da floresta na Amazônia brasileira ocorre principalmente no norte de Mato Grosso, no sudeste do Pará e em Rondônia como um todo, em uma imensa região conhecida como arco do desmatamento (ver mapa). Isso é confirmado pelo histórico do desmatamento na última década: Rondônia, Mato Grosso e Pará respondem por mais de 80% do total para a região.

Diante desses índices alarmantes, surgem muitas perguntas. Que futuro nos espera? Como estarão as nossas florestas daqui a 10, 15, 20 anos? Que diferentes caminhos podem ser trilhados para a reversão desse quadro? Que postura podemos adotar diante dessa realidade?

Para encontrar as respostas, os cientistas vêm desenvolvendo modelos que buscam simular as mudanças ambientais que ocorrem no mundo. Esses modelos permitem compreender por que, onde e quando ocorrerão mudanças na paisagem. No caso do desmatamento, tais simulações são benéficas na medida em que: (a) ajudam a compreender os vetores desse processo, (b) permitem gerar cenários futuros de uma região que vem sendo desmatada, (c) identificam regiões mais propensas à derrubada da vegetação nativa e (d) dão suporte aos órgãos do governo gestores das florestas para que tomem medidas de controle.

Dentro desse contexto, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) utilizaram um modelo de simulação espacial desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para simular distintos cenários futuros da paisagem sobre domínio florestal no Mato Grosso.

Daniel Assumpção Costa Ferreira
Santiago Palácios Noguera
Arnaldo Carneiro Filho

Laboratório de Sistemas de Informações Geográficas (Siglab),
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
Britado Soares-Filho
Centro de Sensoriamento Remoto (CSR),
Universidade Federal de Minas Gerais 

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