O impacto do rio da Prata no oceano Atlântico

Operação de CTD, equipamento utilizado para colher amostras de água e medir temperatura e salinidade.

O que acontece com a água do rio quando ela chega ao oceano?

Os rios causam impacto no oceano de diferentes formas e têm influência sobre suas características físicas, químicas e biológicas. O alcance da água resultante do contato do rio com o oceano determina as condições ambientais da zona costeira e dos seres vivos que a habitam. As características do estuário, onde as águas de origem continental encontram as vastas águas oceânicas, foram descritas no artigo ‘O estuário do Prata: onde o rio se encontra com o mar’, publicado em Ciencia Hoy no 73. A influência do Prata se manifesta também a grandes distâncias do estuário, e esse é o objeto do presente artigo. A presença esporádica de espécies subantárticas e pingüins em praias brasileiras sugere a influência de uma corrente fria vinda do sul. Poderiam essas correntes ter alguma relação com o rio da Prata?

Os rios despejam no mar água doce e grande quantidade de elementos de origem continental, razão pela qual causam forte impacto na zona costeira. A água do rio contém baixa concentração de sais dissolvidos, o que definimos como salinidade. Longe da costa, a salinidade do oceano varia entre 34 e 38 gramas de sal por quilo de água. Mas perto da foz de grandes rios, onde as águas de origem continental se misturam às do mar, a salinidade é consideravelmente menor, alcançando valores inferiores a 20. A água de baixa salinidade resultante dessa mistura também tem menor densidade que a água do mar, formando uma camada relativamente fina e produzindo o que chamamos de estratificação vertical. Aqui chamaremos de ‘pluma’ à área de influência das águas do rio, cuja salinidade é menor que a da água oceânica circundante. Nessa região, os ventos arrastam as águas superficiais e são a principal fonte de energia para misturar verticalmente as águas diluídas e a água do mar. Na zona costeira, a descarga de água doce proveniente dos rios cria a estratificação vertical, e a mistura vertical produzida pelo vento e, em menor medida, pela maré, a destrói.

Entre outros elementos, os rios levam nutrientes para o mar, inclusive fertilizantes empregados em atividades agrícolas, como nitratos e fosfatos. No mar, a baixa concentração de nutrientes costuma limitar o crescimento de algas marinhas microscópicas em suspensão na água (que compõem o fitoplâncton). Conseqüentemente, a maior disponibilidade de nutrientes levados pelos rios às zonas costeiras costuma estimular o desenvolvimento da vida marinha.

A cada segundo, o rio da Prata despeja em média 22 mil m 3 de água de origem continental no Atlântico sul, proveniente da bacia dos rios Paraná/Paraguai e Uruguai, a segunda em extensão na América do Sul, depois da do rio Amazonas, e a quarta do mundo. A bacia do Prata abrange cerca de 3 milhões e 100 mil km 2 , que incluem áreas remotas, como as nascentes do rio Pilcomayo, no noroeste boliviano, na Cordilheira Central, e as serras a nordeste de Brasília, que estão a mais de 2.500 km de sua foz. A serra do Mar, próxima à costa do Sudeste brasileiro, impede o fluxo direto das águas de chuva até o oceano, que vertem então para a bacia do Prata. As águas dos rios Tietê e Pinheiros, por exemplo, que cortam a cidade de São Paulo, situada a menos de 50 km do Atlântico, correm mais de 2.800 km para alcançar o oceano depois de chegar ao rio da Prata.

As águas diluídas pela descarga do rio da Prata na plataforma continental causam forte impacto no ecossistema marinho. Por exemplo, a abundância de certas espécies de fitoplâncton e de larvas de enchova ( Pomatomus saltatrix ), a espécie mais importante em termos de volume de captura no sul do Brasil, está ligada à presença de águas diluídas na região costeira e apresenta variações relacionadas com sua distribuição espacial.

Alberto R. Piola,
Faculdade de Ciências Exatas e Naturais,
Universidade de Buenos Aires,
Osmar O. Möller Jr.,
Departamento de Física,
Fundação Universidade Federal do Rio Grande (RS),
Elbio D. Palma,
Departamento de Física,
Universidade do Sul, Bahía Blanca, Argentina.

 

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