Em junho deste ano, um anúncio importante foi feito por dois paleontólogos chineses, Xiaolin Wang e Zhongue Zhou, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia de Pequim: a descoberta do primeiro ovo fóssil de pterossauro. E, o que é ainda melhor, o ovo continha um embrião! A notícia pode parecer trivial, mas é sem dúvida um dos mais interessantes achados deste ano no campo da paleontologia (ciência que estuda os fósseis), e ganhou destaque na renomada revista Nature .

Os ossos longos (alguns indicados por setas) revelam que o embrião fossilizado é de um pterossauro. (foto: X. Wang)

Os pterossauros, conhecidos popularmente como ‘répteis voadores’, foram o primeiro grupo de vertebrados a desenvolver o vôo ativo, ou seja, tinham a capacidade de bater as asas (como aves e morcegos), o que lhes dava maior autonomia para voar. Esses répteis alados, que surgiram há cerca de 225 milhões de anos, tiveram seus últimos representantes extintos há 65 milhões de anos, junto com seus ‘primos’, os dinossauros.
 
Como não deixaram descendentes, a evolução e o hábito de vida desses animais ainda é pouco conhecido pelos cientistas. Entre as principais dúvidas estava a maneira como os pterossauros se reproduziam: eram animais vivíparos como os morcegos ou punham ovos como as aves?
 
Essa questão foi solucionada pela descoberta chinesa: os pterossauros punham ovos, como a maioria dos répteis. O ovo em questão foi encontrado na província de Liaoning, na China, entre dois pequenos pedaços de rocha de uma camada sedimentar que há 121 milhões de anos formava o fundo de um lago.

A aparência do fóssil não desperta muito interesse, já que se vê apenas um punhado de ossos não facilmente identificáveis. Uma análise mais detalhada, porém, revela que se trata de um embrião. O reconhecimento de que esse embrião é de um pterossauro deve-se à presença de ossos longos, característicos das asas desses animais. A casca do ovo está quase toda destruída, mas algumas partes continuam preservadas na rocha. Essa casca parece ser muito diferente da encontrada em ovos de dinossauros: é muito fina e tem uma ornamentação externa menos marcada.

 
Esse exemplar também exibe partes de tecido mole, como a membrana das asas, que apresenta uma coloração negra, contrastando com o sedimento e a casca, mais claros. O ovo tem 55 mm de comprimento e 41 mm de diâmetro, ou seja, é pouco menor que um ovo de galinha. Embora o embrião seja bem completo (incluindo o crânio), ainda não se sabe ao certo a que espécie de pterossauro ele pertence, o que só poderá ser elucidado com mais pesquisas ‐ e, de preferência, com mais embriões e animais bem jovens.

Esse tipo de descoberta, além de fornecer dados sobre o modo de reprodução de um grupo de vertebrados totalmente extinto, leva os pesquisadores a procurarem outros exemplares semelhantes. Após a descoberta na China, foi anunciado o achado de novo embrião de pterossauro, dessa vez na Argentina, em trabalho ainda em elaboração.

 
Fica, agora, a expectativa de que novos ovos e embriões desses animais sejam encontrados, inclusive no Brasil, que possui um dos principais sítios fossilíferos de pterossauros do mundo, com os restos mais bem preservados: as antigas camadas que afloram nas encostas da Chapada do Araripe, situada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. De qualquer forma, descobertas como a do embrião de pterossauro da China ajudam a elucidar como viviam animais extintos, que habitaram a Terra bem antes de nós, como é o caso desse fascinante grupo de répteis alados!

Alexander Kellner (kellner@mn.ufrj.br)
Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

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