Paz interna, prosperidade econômica e um sistema político funcional. Esse era o ambiente do período do Segundo Reinado, quando se consolidou no Brasil a noção de unidade nacional. Foi nessas circunstâncias que se formou o pensamento de Joaquim Nabuco, falecido há 100 anos. Atividades promovidas por diversas instituições, livros e a aprovação de uma lei que torna 2010 o Ano Nacional Joaquim Nabuco marcam o centenário de sua morte.
Mais lembrado nos livros escolares por sua luta contra o trabalho escravo, o parlamentar, escritor e diplomata deixou ainda obras que revelam suas ideias sobre a história do país e sobre os caminhos que este deveria trilhar para alcançar um futuro de harmonia social e progresso.
Nabuco é quase um clichê da história dos intelectuais no Brasil: membro da elite que se interessa pela causa dos oprimidos, literato diletante que se ocupa dos assuntos públicos, estudioso e polemista que se dedica a pensar sobre os destinos do país.
Manifesta-se frequentemente diante dos acontecimentos políticos, ora com vigor (assim foi na campanha abolicionista), ora desencantado (como nos primeiros tempos da República, ambiente que ele, um monarquista, considerava desfavorável ao país), mas hesita entre o ativismo entusiasmado, a renúncia à vida pública, a aversão e a tentação do recolhimento estudioso do escritor.
O itinerário político e intelectual de Nabuco é muitas vezes traçado, de maneira um tanto sumária, mas não de todo improcedente, entre dois polos. Um início combativo, no qual a militância abolicionista o faz enfrentar a sociedade brasileira, e outra atitude, depois de 15 de novembro de 1889, quando teriam agido os atavismos de classe e ele passa a ser o analista conservador de seus livros da maturidade, elaborados com a nostalgia do Segundo Reinado, a seus olhos a mais harmoniosa construção histórica da América do Sul.
O homem e seu tempo
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em 19 de agosto de 1849 no Recife, filho do futuro senador e ministro da Justiça José Tomás Nabuco de Araújo (1813-1878) e de Ana Benigna de Sá Barreto, esta também de uma família de grande influência em Pernambuco desde o século 16.
Pertencia a uma geração que faria 20 anos entre 1868 e 1878, o decênio “mais notável de quantos no século 19 constituíram a nossa labuta espiritual”, segundo o crítico literário e ensaísta Sílvio Romero (1851-1914), ele mesmo pouco mais novo.
Essa geração incluía nomes como o escritor Machado de Assis (1839-1908), o engenheiro André Rebouças (1838-1898), o diplomata José Maria Paranhos Júnior (o barão do Rio Branco, 1845-1912), o escritor e jurista Rui Barbosa (1849-1923), o poeta e jurista Tobias Barreto (1839-1889) e o poeta Castro Alves (1847-1871).
Por suas qualidades intelectuais, tratava-se de um grupo de jovens candidatos naturais a fazer parte da elite do país, mas que viria também a se beneficiar de um contexto histórico excepcionalmente favorável.
José Almino de Alencar
Fundação Casa de Rui Barbosa,
Ministério da Cultura