O sentido das águas do rio Negro

Jornalista, especial para a Ciência Hoje

Drauzio Varella reúne vivências de três décadas de viagens com equipe de pesquisadores à região e mergulha na realidade e na fantasia dos relatos amazônicos

O sentido das águas: histórias do rio Negro

Drauzio Varella

editora Companhia das Letras, 2025, 304 p.

Na primeira vez que visitou a região do rio Negro, Drauzio Varella se sentiu péssimo. Tinha quase 50 anos, inúmeras viagens ao exterior, passagens por congressos nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Morava no Brasil. Como não conhecia aquela imensidão de águas, nem seu espelho que refletia o mundo ao redor? “Era um desconhecimento que não se justificava, parte de um desprezo que temos com as regiões do nosso próprio país”, diz, em conversa com a CH. Nas últimas três décadas, Drauzio, de 82 anos, voltou mais de cem vezes à região. O rio deixou de ser um desconhecido, assim como os moradores locais, que compartilharam com ele histórias que só acontecem ali. “O sentido das águas” (Companhia das Letras), novo livro do médico e escritor, é um mergulho nesses relatos amazônicos, da realidade dura às crenças e às fantasias dos povos da floresta.   

O rio Negro é um dos três maiores do mundo: percorre cerca de 2.200 quilômetros da nascente, na Colômbia, até se juntar com o Solimões para formar o rio Amazonas. Drauzio voltou muitas vezes graças a um projeto organizado pela Universidade Paulista (Unip) para pesquisa da atividade farmacológica da biodiversidade botânica local. Entre coletas e estudos, navegando pelo rio, ele parava nas comunidades e conversava com ribeirinhos, indígenas, parteiras, comerciantes, mateiros e militares, protagonistas das histórias que o médico divide com os leitores. 

“Já vinha reunindo algum material no decorrer dos anos. Aí fiz 80 anos e pensei: ‘Se não escrever essas histórias, acabou, elas vão morrer comigo. E acho que algumas pessoas gostariam de ouvi-las’. Então juntei o que tinha, escrevi mais, detalhei alguns conhecimentos e o histórico da região e suas etnias indígenas, até resultar nesse livro”, conta.  

Trata-se de uma região muito maltratada na História do Brasil, diz Drauzio, desde a invasão dos portugueses, que escravizaram os indígenas, até a exploração da mão de obra no trabalho com a borracha, num sistema de escravidão por dívida. “É uma das histórias tenebrosas do rio Negro. Os indígenas que vivem lá hoje são, na verdade, sobreviventes”, diz Drauzio. O absurdo dessas chacinas é ilustrado em um dos capítulos, “Soldados da borracha”. 

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