Pergunta enviada por Vítor Netto, de Chapecó, Santa Catarina

Em princípio, as palavras importadas de outras línguas devem receber uma grafia aportuguesada, ou seja, devem seguir o que dispõe o Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que hoje está consolidado no texto do Acordo Ortográfico de 1990, em vigor no Brasil desde 01/01/2009.

No entanto, esse princípio não é absoluto, porque, na fixação da ortografia da língua, fazemos também concessão ao costume. Se, pelo uso, prevalecer a forma gráfica de origem, não a aportuguesamos. Assim, mantemos pizza e carpaccio, na ortografia italiana; affaire e gourmet, na francesa; kitsch e blitz, na alemã; corpus e habitat, na latina; paella e pasodoble, na espanhola etc.

Entram nessa categoria alguns empréstimos do inglês, como show, bacon, shopping e slogan. Essa concessão ao costume é doutrina antiga na fixação da ortografia de uma língua.

Parece que acabamos preferindo a forma original sempre que a aportuguesada causa muito estranhamento visual

Fernão de Oliveira (1507-1581), nosso primeiro gramático, já dizia, no século 16, que, em matéria ortográfica, “o costume vale muito”. Seguia nisso o famoso mestre latino Marcus Fabius Quintilianus (35 d.C. – 95 d.C.), que, em seu livro Institutio oratoria, escrito no ano 95 da nossa era, mostrava como a ortografia é também serva do uso.

É difícil prever que palavras manterão, pelo costume, sua forma gráfica de origem. Serão poucas, em todo caso. Parece que acabamos preferindo a forma original sempre que a aportuguesada causa muito estranhamento visual (píteça ou pizza? shopping ou chópin?).

Carlos Alberto Faraco
Departamento de Lingüística
Universidade Federal do Paraná

Texto originalmente publicado na CH 287 (novembro de 2011).

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