O trabalho do biólogo sueco-estoniano revolucionou a paleogenética, deixando um legado que mostra a história humana como uma tapeçaria de migrações, hibridizações e adaptações.
O trabalho do biólogo sueco-estoniano revolucionou a paleogenética, deixando um legado que mostra a história humana como uma tapeçaria de migrações, hibridizações e adaptações.
CRÉDITO: WIKIMEDIA COMMONS

O médico e biólogo sueco-estoniano Svante Pååbo, cujo trabalho pioneiro transformou o estudo da evolução humana, nasceu em Estocolmo em 1955. Seus pais eram cientistas, a química Karim Pääbo (1925-2007) e o bioquímico Sune Karl Bergström (1916-2004), um dos laureados com o prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 1982.
A carreira científica de Svante foi incomum: formou-se em medicina e em egiptologia pela Universidade de Uppsala (Suécia) em 1986. Ainda estudante, sem alarde, decidiu tentar extrair DNA de múmias egípcias, lançando as bases para o futuro campo da paleogenética.
Esse interesse original prosperou e rendeu-lhe o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, que recebeu, sozinho, em 2022. Suas importantes contribuições apontaram as diferenças genéticas entre os humanos modernos e hominídeos extintos, demonstrando convivência e transferências genéticas entre diferentes espécies.
O primeiro progresso significativo nesse sentido ocorreu durante seu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), supervisionado pelo bioquímico neozelandês Allan Wilson (1934-1991), um entusiasta do sequenciamento do DNA aplicado aos estudos evolucionários.
Para desenvolver novos métodos para análise de antígenos de DNA, Pååbo superou conhecidos obstáculos técnicos nos estudos de moléculas antigas, a exemplo da degradação do material genético e da contaminação com DNA contemporâneo. Em 1997, como fundador e diretor do Instituto Max Planck de Antropologia e Evolução, em Leipzig (Alemanha), liderou o grupo de cientistas que sequenciou o primeiro DNA mitocondrial Neandertal de um osso de 40 mil anos.
O estudo, publicado na revista Nature, mostrou que os neandertais e os humanos modernos eram espécies geneticamente diferentes. A partir de um ancestral comum, as espécies se separaram há mais de meio milhão de anos, dando origem a linhagens evolutivas diversas.
A contribuição de Paäbo atingiu o auge e consagrou o campo da paleogenômica em 2010, quando sua equipe sequenciou o DNA nuclear completo do neandertal, um trabalho publicado na revista Science. A análise mostrava que 1% a 4% das atuais populações euro-asiáticas compartilham DNA com essa espécie, comprovando coexistência, cruzamentos e prováveis conflitos entre humanos modernos e neandertais, na Europa, até a extinção desses últimos.
No mesmo ano, Pääbo fez outra descoberta revolucionária: a partir do DNA de um fragmento ósseo de criança, descoberto na caverna Denisova (Sibéria), identificou uma nova espécie extinta de hominínio (grupo de humanos modernos e de todas as espécies da nossa árvore evolutiva), que ele denominou denisovano. Populações modernas na Melanésia e no Sudeste Asiático compartilham até 6% de seu DNA com os denisovanos, que se separaram dos neandertais há cerca de 400 mil anos, segundo as análises genéticas realizadas.
A rede inseparável de interações entre hominínios foi confirmada por um estudo subsequente de Pääbo em 2018, que descobriu um híbrido de primeira geração – de neandertal e denisovano – na mesma caverna.
As pesquisas de Pääbo repercutem além da antropologia e influenciam a biomedicina ao mostrar que variações genéticas de neandertais têm repercussão sobre as características humanas contemporâneas, como suscetibilidade a doenças, pigmentação da pele e resposta imunológica.
Pääbo estabeleceu protocolos laboratoriais rigorosos e ‘limpos’ para evitar contaminação nas análises de DNA, com métodos de sequenciamento sensíveis. Esses cuidados possibilitam pesquisas genéticas em fósseis de mamutes com mais de um milhão de anos e de hominídeos de Sima de los Huesos em Atapuerca (Espanha).
Suas descobertas comprovam que genes de espécies extintas são componentes essenciais da biologia humana contemporânea e estimulam pesquisas sobre os efeitos de fragmentos de DNA antigo em nossa saúde. Na atualidade, seu laboratório investiga as distinções neurobiológicas entre hominínios extintos e os humanos modernos, utilizando organoides cerebrais na tentativa de encontrar mutações no gene TKTL1 que possam ter influenciado o desenvolvimento cognitivo único do Homo sapiens sapiens.
Em interessante livro de 2014, Homem de Neandertal: em busca de genomas perdidos, Paäbo detalha seus estudos científicos e também aborda sua vida pessoal, sua bissexualidade e seu casamento com a primatologista Linda Vigilant.
Combinando curiosidade intelectual, genética de ponta e paleontologia, Svante Pääbo deixa um legado que mostra como a história humana é uma tapeçaria de migrações, hibridizações e adaptações.
As pesquisas de Pääbo repercutem além da antropologia e influenciam a biomedicina ao mostrar que variações genéticas de neandertais têm repercussão sobre as características humanas contemporâneas, como suscetibilidade a doenças, pigmentação da pele e resposta imunológica
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