A guerra contra as pragas

Perguntas sobre a natureza do tempo – Ele existe? É só ilusão? Terá um fim? – são atemporais e motivaram filósofos, escritores, teólogos… Mas foi com os físicos, no século passado, que esse conceito sofreu grandes transformações.

O tempo sempre foi tratado como conceito adquirido por vivência, indefinível em palavras. Na mitologia grega, Cronos, deus do tempo, devorava seus filhos para que nenhum pudesse roubar-lhe o trono. Está aí representada uma das características do tempo: sua destrutividade.

O filósofo grego Parmênides (530-460 a.C.) defendia que as transformações que observamos no mundo físico resultam de nossa percepção, de um processo mental. Elas, de fato, não ocorreriam. Para ele, a realidade seria indivisível e destituída do conceito de tempo. Para Platão (427-348 a.C.), o tempo nasceu quando um ser divino pôs ordem e estruturou o caos primitivo. Portanto, o tempo – de importância menor, por pertencer ao mundo das sensações – teria origem cosmológica no pensamento platônico.

Ainda entre os gregos, Aristóteles (3 a.C.) fez investigação sistemática do tempo. Para ele, esse conceito – cuja mensuração seria tarefa da alma – estaria relacionado à ideia de movimento, de mudanças na natureza: “O tempo é a medida do movimento segundo o antes e o depois”. Portanto, sem movimento, não haveria tempo.

Na Idade Média, Santo Agostinho (sec. 4), em sua obra Confissões, retomou a tradição aristotélica ao associar o tempo com a própria vida da alma humana, se estendendo tanto para o passado quanto para o futuro. Segundo ele, haveria três tempos: o presente do passado (memória); o presente do presente (intuição); e o presente do futuro (esperança).

A partir do século 16, quando se deu o que historiadores denominam Revolução Científica, os desenvolvimentos da física passaram a ser fortemente atrelados à matemática – nesse período, se deu a criação do chamado cálculo integral e diferencial, ensinado atualmente em cursos de nível superior.

Nesse momento, a definição do tempo – ou seja, de sua essência, natureza – perdeu importância para a questão de sua medição. Com a matematização, a física passou, por meio de equações, a ter caráter preditivo. Isso ficou enfatizado, principalmente, no estudo da mecânica (movimento dos objetos), na qual o tempo deve ser grandeza que possa ser medida – de certo modo, isso remete às ideias aristotélicas de que o tempo está relacionado ao movimento.

Com mecanismo interno dotado de movimento periódico, relógios mecânicos – cujos primeiros relatos datam da primeira metade do século 14 – passaram a ocupar o lugar do movimento dos astros na medição do tempo.

Adriano de Souza Martins

Instituto de Ciências Exatas (campus Volta Redonda),
Universidade Federal Fluminense

CONTEÚDO EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Para acessar este ou outros conteúdos exclusivos por favor faça Login ou Assine a Ciência Hoje.

Seu Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outros conteúdos desta edição

614_256 att-49396
614_256 att-49261
614_256 att-49271
614_256 att-49242
614_256 att-49281
614_256 att-27650
614_256 att-49172
614_256 att-49165
614_256 att-49134
614_256 att-49115
614_256 att-49123
614_256 att-49075
614_256 att-48971
614_256 att-49091
614_256 att-49061

Outros conteúdos nesta categoria

725_480 att-81551
725_480 att-79624
725_480 att-79058
725_480 att-79037
725_480 att-79219
725_480 att-86776
725_480 att-86725
725_480 att-86535
725_480 att-86460
725_480 att-86055
725_480 att-85946
725_480 att-86145
725_480 att-86160
725_480 att-85705
725_480 att-85728