Bioinformática para desvendar o código genético de bactérias

Jornalista, especial para a Ciência Hoje
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Pesquisadora premiada da UFMG, Flávia Figueira Aburjaile aplica análise e processamento de dados em vigilância pioneira de patógenos em hospitais veterinários

CRÉDITO: FOTO: ACERVO PESSOAL/ FLÁVIA FIGUEIRA ABURJAILE

Pesquisas recentes indicam que as mortes derivadas de infecções por bactérias resistentes a medicamentos devem subir em todo o mundo até 2050 em um ritmo mais acelerado. O aumento da variedade dessas superbactérias assusta, ameaça a saúde pública e mobiliza muitos cientistas para que as previsões mais alarmantes não se concretizem. A professora de bioinformática Flávia Figueira Aburjaile, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), faz parte de uma dessas frentes. Na coordenação do Laboratório de Bioinformática Integrativa do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UFMG, ela aplica a análise e processamento de dados em um trabalho pioneiro de vigilância de bactérias em hospitais veterinários. 

“Através da análise de dados genômicos, monitoramos as bactérias que estão ganhando genes de resistência a diferentes classes de antibióticos. É importante saber isso não só pelo prejuízo à saúde animal, pois estamos falando de hospitais veterinários, mas também porque isso traz riscos à saúde humana. Muitas vezes são animais que têm contato com humanos e com o ambiente. É uma questão de saúde pública”, conta Flávia. 

Seu foco principal são as bactérias do grupo denominado ESKAPEE, acrônimo para bactérias difíceis de combater com antibióticos, dentre elas: Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter spp e Escherichia coli. São as de tratamento mais complicado, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Nossa análise busca entender como essa resistência passa a cada geração, o dano causado e quais são os mecanismos moleculares”, conta. “O ano de 2050 parece longe, mas não está, e por isso há tantas redes de cientistas analisando esses patógenos e buscando novas moléculas e/ou fármacos que possam combater essas bactérias super-resistentes”. 

Com base em modelos computacionais que usam dados de vigilância genômica dessas bactérias, explica a bioinformata, é possível tentar prever quais são os genes de resistência, fatores de virulência e quais são os prováveis mecanismos que as bactérias utilizam para “fugir” do sistema imunológico do hospedeiro ou “expulsar” o antibiótico quando ele entra na célula. O projeto ganhou em 2023 o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, do Grupo L’Oréal no Brasil, em parceria com a Academia Brasileira de Ciências e a UNESCO.

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