Como preservar nossos valores naturais?

A cuíca-d´água (Chironectes minimus), único marsupial com hábitos aquáticos, carrega seus filhotes em uma bolsa similar à dos cangurus, inclusive quando está dentro d’água ou mergulhando. São comuns na maior parte dos córregos de nossas matas (foto: Maurício E. Graipel).

Um dos principais objetivos da criação de áreas naturais protegidas é a preservação da biodiversidade, mas para isso é essencial o comprometimento de seus gestores com esse princípio. Além disso, é necessário intensificar as pesquisas direcionadas à proteção e ao conhecimento da fauna dessas áreas. Conduzida com dificuldade por poucos, a conservação poderia envolver muitos outros colaboradores, se todos conhecessem o que queremos preservar.

A importância de nossa biodiversidade é pouco conhecida. Talvez por esse motivo se assista passivamente à ameaça de extinção de espécies da fauna silvestre decorrente da destruição de seus hábitats. A extinção de uma espécie em uma região altera as relações entre as espécies sobreviventes, gerando desequilíbrios ecológicos que afetam a qualidade ambiental e muitas vezes têm conseqüências indesejáveis também para as populações humanas, dificultando ou inviabilizando, por exemplo, o controle de pragas ou reduzindo a produtividade agrícola.

Muitos desses problemas poderiam ser evitados. O conhecimento de nossa fauna e o planejamento de áreas naturais associadas a ambientes urbanos ou agrícolas pode ajudar a manter a biodiversidade, contribuindo para elevar nossa qualidade de vida.

A mata atlântica foi o bioma brasileiro mais afetado pela ocupação do território. As maiores concentrações urbanas do país situam-se em áreas antes cobertas pela floresta litorânea. No entanto, o conhecimento da sociedade sobre a fauna desse bioma é mínimo. Animais extraordinários vivem nas matas de muitos parques e reservas, inclusive os próximos às cidades – ou seja, são nossos vizinhos! Impressiona o espanto de algumas pessoas quando vêem imagens desses animais e ficam sabendo que estão bem perto.

Para muitos, a onça-parda ou leão-da-montanha (Puma concolor) é uma espécie que só existe nos filmes norte-americanos, enquanto a jaguatirica (Leopardus pardalis) vive apenas nas florestas intransponíveis da Amazônia. Mas isso está longe de ser verdade.

O graxaim (Cerdocyon thous), é um canídeo comum no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e na maior parte dos remanescentes florestais de nossas cidades, onde felinos de maior porte são raros ou desapareceram (foto: Conservação Internacional do Brasil / Funpesquisa-UFSC).

De modo similar, o graxaim, ou raposa (Cerdocyon thous), é comum na maior parte das florestas brasileiras, e a única espécie de marsupial com hábitos aquáticos em todo o mundo, a cuíca-d’água (Chironectes minimus), ocorre na maioria dos córregos e rios de ambientes florestais do país. E quem sabe disso?

Noturnos e esquivos
É verdade que dificilmente os animais da nossa fauna são vistos. Os fragmentos remanescentes da mata atlântica – bioma com a maior biodiversidade do país e uma das maiores do mundo – situam-se em áreas de relevo acidentado, justamente onde é mais difícil a ocupação humana. Além disso, as matas são muito densas e nossos mamíferos, por exemplo, são em sua maioria noturnos e esquivos. Para a sorte deles, pois, se ficassem bem à vista, muitos já estariam extintos!

As pesquisas também são poucas e recentes. Portanto, o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira ainda é escasso. Então como fazer para divulgar e conservar essa diversidade, se a mata atlântica foi quase totalmente destruída?

Embora a mata atlântica ocupe hoje menos de 10% da área de cobertura original, muitos fragmentos estão protegidos em unidades de conservação. A maioria delas existe apenas no documento que as criou – são as chamadas reservas de papel –, mas ainda assim contribuem para preservar plantas e animais. Quando algum investimento é feito na fiscalização dessas áreas, os resultados, para a conservação, podem ser surpreendentes. Esse parece ser o caso de algumas unidades de conservação estudadas no sul do Brasil.

Maurício E. Graipel, Fernando V. B. Goulart, Marcos A. Tortato,
Luiz Gustavo R. O. Santos
e Ivo R. Ghizoni Jr.
Projeto Parques & Fauna, Departamento de Ecologia e Zoologia,
Universidade Federal de Santa Catarina

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