Entretenimento para animais de cativeiro

O ambiente limitado e pouco estimulante do cativeiro pode causar uma série de problemas aos animais, como tédio e estresse. Além disso, algumas espécies mantidas em confinamento sofrem com nutrição e manejo reprodutivo inadequados e perda de diversidade genética.

Odores foram aplicados em diversos pontos da jaula do gato-do-mato-pequeno para tentar mudar os hábitos no cativeiro (foto: Gelson Genaro).

Para contornar essa situação, pesquisadores da Fundação Jardim Zoológico (Riozoo), do Rio de Janeiro, e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) analisaram o comportamento de pequenos felinos brasileiros, como o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e o gato-maracajá (Leopardus wiedii), e propuseram alternativas para melhorar o bem-estar das espécies e diversificar o comportamento desses animais em cativeiro.

A pesquisa foi desenvolvida por Gelson Genaro, Letícia de Souza Resende e Artur Andriolo, da UFJF, e Valdir Ramos Júnior e Gabriella Landau Remy, do Riozoo. Segundo Genaro, os pequenos felinos mantidos em cativeiro se movimentam muito pouco e passam mais de 70% do seu tempo em ‘descanso’.

Esses animais, quando livres na natureza, percorrem grandes distâncias em busca de alimento, abrigo e parceiros sexuais, mas enjaulados apresentam uma série de comportamentos estereotipados, como deslocamento repetitivo e sem motivo aparente, o que pode indicar condições inapropriadas de manutenção em cativeiro. A meta da pesquisa é fazer com que os animais dediquem mais tempo a hábitos naturais, como vigilância, demarcação de território, obtenção de alimentos e brincadeiras.

Para estimular um comportamento mais diversificado dos animais, a equipe adicionou odores de canela e erva-de-gato (Nepeta cataria) em diversos pontos das jaulas. Os resultados da pesquisa indicaram que, apesar do tempo de interação dos animais com os novos odores ser relativamente pequeno, eles influenciaram uma mudança de comportamento dessas espécies.

A presença de canela não aumentou a atividade dos animais, mas reduziu de maneira significativa o comportamento estereotipado. Já a adição de erva-de-gato, embora também não tenha reduzido as estereotipias, influenciou a expressão de comportamentos naturais, como a marcação do território com urina.

Quebra de rotina
Genaro afirma que as ações de ‘enriquecimento ambiental’, como é conhecida a técnica de estímulo a um comportamento mais diversificado de animais em cativeiro, são muito importantes. “O objetivo dessas técnicas é mantê-los sempre ocupados e estimular comportamentos mais próximos dos animais de vida livre”, explica. “Também é possível desenvolver um ambiente mais estimulante com a criação de obstáculos físicos no recinto e oferecimento de alimentos de maneira distinta, com tamanhos diferentes e a intervalos irregulares.”

Atualmente, o enriquecimento ambiental é empregado em diversas instituições, como zoológicos e aquários, como forma de melhorar o bem-estar de aves, primatas e outros animais. Genaro ressalta que é essencial conhecer bem o comportamento desses animais para criar melhores condições para sua manutenção em cativeiro, situação que se torna mais freqüente já que muitas espécies correm o risco de ser extintas na natureza.

Igor Waltz
Ciência Hoje / RJ

 

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