É notável e digna de aplausos a atuação das Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs) brasileiras no enfretamento à pandemia de Covid-19, especialmente na produção de vacinas pelo Instituto Butantan (SP) e pela Fundação Oswaldo Cruz. É preciso reconhecer, contudo, que, na sua grande maioria, as ICTs nacionais estão desempenhando o papel – relevante e necessário – de receptoras de tecnologias desenvolvidas em outros países e não estão atuando efetivamente na fronteira do desenvolvimento tecnológico de soluções para o tratamento e a prevenção do Sars-Cov-2.
A pandemia terminou escancarando um problema estrutural já conhecido: a gigantesca dependência tecnológica e produtiva na área da saúde, incluindo a produção de fármacos, biofármacos, medicamentos e vacinas. A situação do Brasil na saúde é paradoxal. De um lado, temos uma produção científica relevante e reconhecida mundialmente, universidades que apresentam um índice razoável de colaborações internacionais e um sistema de ciência, tecnologia e inovação que ainda possui uma estrutura robusta, apesar dos contínuos e crescentes cortes orçamentários. De outro lado, toda essa pujança não se reverte na efetiva introdução de inovações desenvolvidas no Brasil e focadas nas necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Diversos fatores contribuem para essa lacuna e englobam desde a sabida articulação insuficiente entre os grupos de pesquisa na área de saúde e o ambiente industrial até as fragilidades já conhecidas do setor produtivo nacional, que vêm se acentuando nos anos recentes.
O processo de desenvolvimento e introdução no mercado de soluções inovadoras na área biomédica não é, de forma alguma, trivial. A ideia de que as descobertas científicas irão naturalmente se transformar em produtos, de forma linear e sem atritos, é um mito reducionista ainda enraizado na percepção de muitas pessoas.
A transformação de observações realizadas no laboratório, ou na prática clínica, em intervenções efetivas que melhorem as condições de saúde da população, sob a forma de medicamentos, vacinas, diagnósticos, equipamentos etc., é, na vida real, um processo multidirecional e complexo, que é estudado por um campo específico denominado ciência translacional.
O desenvolvimento de um novo medicamento pode ser utilizado como um bom exemplo das dificuldades que envolvem esse processo de translação. O custo é elevado (esses números são controversos, e algumas estimativas indicam valores que variam de US$ 720 milhões até US$ 2,7 bilhões), a complexidade é crescente, especialmente se considerarmos os medicamentos biológicos (que demandam diversas expertises, como biologia, química, computação, engenharia, dentre outras), a taxa de sucesso é reduzida (podem ser testados até 10 mil compostos) e o tempo de desenvolvimento é usualmente elevado, chegando a 10 anos ou mais.
É preciso, portanto, atuar, de maneira orientada, sobre o processo de translação, ou ele não se completará de forma satisfatória e efetiva. As deficiências do complexo econômico-industrial da saúde, já apontadas acima, não são de fácil solução e dependem de um conjunto de medidas estruturais cujos efeitos não são imediatos. Mas o que é possível fazer nesse ínterim?
Dentre as várias ações demandadas nesse campo, estimular a inserção de ICTs brasileiras em redes internacionais de pesquisa translacional é uma resposta urgente e indispensável para assegurar acesso a toda uma gama de recursos necessários para viabilizar verdadeiramente a inovação. Mas não se trata de uma postura simplesmente passiva, na qual cabe às instituições nacionais aderir às agendas de pesquisa já existentes e que, muitas vezes, não estão focadas nos problemas concretos do nosso sistema de saúde. É possível imaginar uma postura ativa, que fomente a criação de novas redes internacionais que possam considerar as necessidades específicas de saúde do Brasil.
Essa postura ativa depende, contudo, da criação e do fortalecimento de instituições que sejam vocacionadas para atuar como catalisadoras do processo de translação, instituições que possuam os recursos e competências necessários para agir como intermediárias e que sejam capazes de atrair diferentes parceiros, formando um verdadeiro ponto centralizador.
Existem algumas instituições internacionais que atuam dessa forma, dentre as quais podemos citar o NIH NCats (braço de ciência translacional do NIH norte-americano), a rede EATRIS-ERIC (consórcio europeu formado por 13 países focado em viabilizar projetos de pesquisa translacional) e a Translation Together (aliança de organizações voltadas para a ciência translacional). É imprescindível que as organizações brasileiras estudem e aprendam com esses exemplos.
Marco Tulio de Barros e Castro
Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz
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