Aratasaurus museunacionali é o nome do novo dinossauro brasileiro que acaba de ser descrito por paleontólogos do Brasil e da China no periódico Scientific Reports (grupo Nature). Posso imaginar a supressa do leitor com o nome, mas a história do achado justifica. Aratasaurus é a combinação de ‘ara’ e ‘atá’ – que significam ‘nascido’ e ‘fogo’ na língua Tupi – com ‘saurus’, sufixo de origem grega muito usado na determinação de répteis fósseis, em especial dinossauros. Museunacionali é uma homenagem ao primeiro museu do Brasil, que tanto sofreu com o grande incêndio de 02 de setembro de 2018. Assim, em uma tradução livre, o nome significa ‘dinossauro que nasceu do fogo do Museu Nacional’, uma homenagem à instituição científica mais antiga do país e que se encontra em plena reconstrução.
Aratasaurus foi encontrado em rochas que recebem o nome de Formação Romualdo, presentes na região da Bacia do Araripe, uma área muito rica em fósseis que se estende pelos estados de Ceará, Pernambuco e Piauí. Foi coletado em uma mina de gesso, chamada Mina Pedra Branca, localizada entre as cidades Nova Olinda e Santana do Cariri, no Ceará. De lá, já saíram milhões de exemplares, com destaque para os peixes excepcionalmente bem conservados. Esses fósseis estão preservados em nódulos calcários, bem típicos, que são muito famosos pelo mundo. Além de peixes e plantas, também foram encontrados crocodilomorfos, pterossauros (grupo de répteis alados) e alguns poucos registros de dinossauros.
Mas, ao contrário destes, Aratasaurus foi preservado em uma placa de folhelho (rocha escura composta por finas lâminas de sedimentos com grãos do tamanho dos de argila), procedente de uma camada situada na base da Formação Romualdo, sendo, portanto, alguns milhares de anos mais antiga que a camada com os nódulos calcários. A formação dessas rochas é estimada entre 115 e 110 milhões de anos atrás, um período geológico denominado de Cretáceo Inferior. É o primeiro registro de dinossauro nessa parte da Formação Romualdo, o que abre a possibilidade para novos achados no futuro.
O único exemplar de Aratasaurus é formado pela perna direita e pode ser classificado no grupo Coelurosauria. Os celurossauros surgiram há cerca de 168 milhões de anos, no período Jurássico Médio, e englobam muitas formas de dinossauros, incluindo as aves recentes. As formas mais basais desse grupo são muito raras e restritas essencialmente à América do Norte e à China. Aratasaurus é o celurossauro mais basal encontrado na América do Sul até agora. O achado sugere que essas primeiras formas de celurossauros eram mais diversificadas e tinham uma distribuição mais ampla do que se supunha até então.
Aratasaurus tinha pouco mais de 3 m de comprimento e uma massa entre 34 e 35 kg. Estudos histológicos dos ossos fossilizados desse animal indicam que ele ainda estava em fase de crescimento, sendo, portanto, um jovem que poderia alcançar dimensões ainda maiores quando adulto. Deveria ser um predador ágil, que corria pelas margens de lagos à procura de alimento, possivelmente pequenos animais. É provável que seu corpo fosse recoberto por estruturas filamentosas interpretadas como protopenas, assim como muitos outros celurossauros.
Outra curiosidade sobre Aratasaurus é sua relação de parentesco. Ao contrário do que se poderia imaginar, o novo dinossauro não é diretamente aparentado com outros encontrados na região do Araripe, como o famoso Santanaraptor. Essa nova espécie estava mais proximamente relacionada com o celurossauro Zuolong sallei, procedente da província de Xinjiang, da China. Também chama atenção a grande diferença de idade entre a forma chinesa e Aratasaurus. Zuolong foi encontrado em rochas formadas há aproximadamente 160 milhões de anos, ou seja, pelo menos 45 milhões de anos antes das rochas em que estava o nosso Aratasaurus. Esse aspecto sugere fortemente que existem muitas outras espécies de celurossauros basais a serem descobertas. Agora é importante realizar novas escavações na região para encontrar mais exemplares.
Por último, vale a pena mencionar que o exemplar pertence ao Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Crato) e estava emprestado ao Museu Nacional para pesquisa há alguns anos. Por sorte, o fóssil encontrava-se no laboratório de preparação, situado em uma área anexa ao palácio, e não sofreu com o trágico incêndio de 2018. Todos os autores, que incluem profissionais do Museu Nacional, estão dedicados a auxiliar nessa importante tarefa que é a de reconstrução da instituição e sua devolução o quanto antes para a sociedade brasileira.
Alexander W. A. Kellner
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Academia Brasileira de Ciências
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