O que os olhos não veem pode ajudar no mapeamento

Imagem de satélite da erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai em Tonga, 15 de janeiro de 2022. CRÉDITO: HIMAWARI-8 PROXYVISIBLE JPA  CIRA/RAMMB

Imagens são registros instantâneos (ou quase isso) da realidade. Compreender fenômenos a partir desses produtos exige a observação não de um único registro, mas de uma sequência deles, sejam de caráter anual, mensal, horário… Outra questão relevante é o fato de que o espectro deste registro pode ir além do visível (faixa que identificamos através dos nossos olhos) e pode nos trazer informações que passariam despercebidas. Esta possibilidade, em maior ou menor detalhe, tem desenvolvido vários campos de investigação, permitindo mapeamentos diversos.

A necessidade da percepção em escala de paisagem e da observação através do ponto de vista de topo também ajudou a promover o sensoriamento remoto aéreo e, posteriormente, o orbital. Afinal, é através das imagens, e dos mapas delas derivados, que é possível gerar medições, que, mais do que quantificar, são capazes de qualificar as diferentes coberturas terrestres.

É fato que com o crescente avanço tecnológico, somos capazes de adquirir, processar e visualizar produtos de abrangência e detalhamento inimagináveis. Atualmente temos ainda a possibilidade de lidar com grandes volumes de dados imagéticos (vivemos no contexto do BIGDATA de observação da Terra), o que permite a percepção detalhada de mudanças naturais ou antrópicas. Para entender melhor, basta observarmos a quantidade de sensores ativos ao nosso redor, mesmo que se encontrem muito distantes – no espaço, por exemplo. Estes sensores estão associados a plataformas terrestres, aéreas ou orbitais e, de acordo com suas funções, registram o ambiente com base em diferentes pontos de vista, escala e intervalos temporais.

Para ilustrar, recentemente fomos testemunhas do intenso fenômeno relacionado à erupção do vulcão submarino em Tonga. A variedade de imagens disponibilizadas, possibilitando a compreensão de tudo o que aconteceu, foi impressionante. Os registros gerados foram feitos da Terra e do espaço – até por satélites geoestacionários em diferentes faixas do espectro eletromagnético, que permitiram a percepção da propagação de ondas mesmo quando nossos olhos não poderiam enxergar mais.

Nossa capacidade de registrar eventos cresceu muito. Somos, cada vez mais, hábeis no detalhamento espacial e temporal da superfície, e não é só a da Terra – as recentes imagens de Marte nos mostraram isso. Em outras palavras, somos capazes de perceber pequenas porções da superfície e de acompanhá-la a intervalos pequenos de tempo, em abrangência global.

Um artigo recente na revista científica Science mostrou que o uso de imagens orbitais possibilitou a identificação e mapeamento de nuvens de metano, associadas a megavazamentos de petróleo e gás. Essa iniciativa inédita indicou locais prioritários de atenção, dado que algumas das nuvens identificadas alcançavam vastas áreas. É a tecnologia dando um passo muito importante na batalha em relação às mudanças climáticas.

De tão adaptados (e até dependentes) a soluções remotas como essa, sequer percebemos quão recentes elas são. O sistema de observação da Terra já está consolidado e, ao mesmo tempo em que nos assusta, traz uma variedade de possibilidades que nos ajudam na tomada de decisão em diferentes áreas do conhecimento.

Cabe destacar que essas imagens são mais do que cores, são matrizes cujas células carregam informações físicas da superfície imageada, como reflectância e calor. E essas informações é que nos ajudam a traduzir o que acontece na superfície, mesmo que não estejamos presenciando o registro.

Carla Madureira Cruz
Departamento de Geografia
Instituto de Geociências
Universidade Federal do Rio de Janeiro

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