Vários estudos revelam a importância de um bom professor na escolha profissional dos estudantes. Comigo não foi diferente! Certamente, minha opção por fazer biologia foi influenciada pelo meu professor do ensino médio. Sim, eu gostava da disciplina, mas sem aquelas aulas emocionantes, atraentes e que nos revelavam a beleza da biologia, é provável que tivesse escolhido outros caminhos.
Já na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), escolhi, dentro da biologia, a licenciatura. Queria ser professora. Mas acabei experimentando a iniciação científica, onde tomei contato com a pesquisa. Essa experiência funcionou como uma ‘maçã envenenada do bem’, pois ali descobri que queria ser cientista e também ensinar, como meu professor de biologia. Assim, a carreira de professora universitária –que acabei abraçando – parecia conciliar todas as minhas expectativas.
Recordo-me que, durante a graduação e as atividades de pesquisa de uma iniciante, tive tropeços e frustrações. Mas, no meu caminho, estava, felizmente, o professor Haity Moussatché, que me deu sua mão (e uma carta escrita de próprio punho que eu guardo como um tesouro!) e incentivos para prosseguir e perseverar na biologia e na ciência. Formei-me em licenciatura e genética na UFRJ, fiz mestrado e doutorado no Instituto de Química da UFRJ.
Não posso deixar de mencionar que me casei muito cedo (19 anos, no segundo ano da graduação…) e, um ano depois, aos 20 anos, nascia minha primeira filha, Juliana, que recebeu comigo todos os meus diplomas de graduada. Hoje, ela é pesquisadora na área de história, o que me dá muita alegria.
Ainda durante o mestrado, nasceu Vitor, meu segundo filho. Naquela época, era editora das revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, uma das atividades de que mais me orgulho na vida! Ele dizia, aos 5, 6 seis anos, que, quando crescesse, queria ser “arquipélago” em vez de arqueólogo. Graças a essa troca de palavras, nasceu a seção da CHC‘Quando crescer,vou ser…’, que explica aos pequenos, de forma lúdica e clara, algumas profissões relacionadas à ciência. Foi Vitor, meu filho, que inventou essa moda! Mas não tornou-se “arquipélago”; fez cinema na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e hoje edita vídeos!
No mestrado e no doutorado, estudava fotossíntese nas cianobactérias, organismos verde-azulados lindos que fixam nitrogênio atmosférico e liberam muito oxigênio, que alimenta o planeta e nos mantém vivos. Durante o doutorado, recebi uma bolsa-sanduíche para passar um ano e meio na Universidade de Illinois (Estados Unidos), trabalhando junto aos Laboratórios de Gregorio Weber e Anthony Crofts. Foi uma experiência única, e hoje tenho clareza que se faz necessário na vida de qualquer pesquisador brasileiro ter uma vivência no exterior. Conhecer outras realidades, outras culturas, aprender outra língua, se expor ao novo, fazer parcerias é fundamental para assegurar uma carreira científica rica e aberta.
Além disso, foi durante minha estada no exterior que defini claramente meus interesses científicos futuros. Foi por acaso, como muita coisa acontece em ciência, que me deparei com uma proteína que eu queria estudar, mas que agregava e formava maçarocas dentro do tubo de ensaio. Isso me despertou para o fenômeno da agregação de proteínas, desconsiderado pela comunidade científica à época. Hoje, esse fenômeno responde por várias doenças como Alzheimer, Parkinson, príon e outras. Muitos grupos mundo afora estudam a agregação de proteínas para compreender o fenômeno e buscar cura para essas doenças intratáveis até o presente.
Ao voltar para o Brasil em 1993, defendi meu doutorado em fotossíntese e comecei a trabalhar com proteínas que agregam, mudando radicalmente meu interesse científico. Em 1995, fui contratada como professora do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, na UFRJ, onde estou até hoje coordenando o LAPA (nome legal, para quem mora no Rio!), ou Laboratório de Agregação de Proteínas e Amiloidoses.
Ainda em 1997, nasceu Ana Luisa, minha terceira filha, que estuda física na UFRJ e é apaixonada por essa disciplina. São poucas as meninas que fazem física, e Ana se ressente muito por isso.
Já como professora, acabei por me envolver com atividades administrativas na própria instituição. Isso toma um tempo enorme, mas é uma atividade muito rica e que nos faz conhecer gente, iniciativas fantásticas e entender as instituições. Fui pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ entre 2011 e 2015. Guardo com muito carinho esse período
de aprendizado e convívio com pessoas fantásticas. Valeu muito a pena! Não posso deixar de mencionar minha alegria ao ser eleita membro da Academia Brasileira de Ciências em 2009. Quantas coisas importantes faz a ABC, em especial na defesa da ciência, da educação e da soberania do Brasil.
Além disso, contribuir para melhorar a combalida educação básica brasileira também tem ocupado parte da minha missão como professora universitária e cientista brasileira. Afinal, tudo começou com meu professor de ensino médio que me levou a fazer licenciatura em biologia… Seja na Rede Nacional de Ciência para Educação, seja no projeto de extensão ‘UFRJ Doa Uma Aula’, seja orientando alunos na pós-graduação em Educação em Biociência no meu instituto, um pouquinho que se faz pode ser muito!
Enfim, penso que minha trajetória acadêmica ilustra que, sim, é possível fazer ciência, ser mãe, se envolver com divulgação científica, administração e educação básica sendo mulher. Tudo isso junto e misturado e pincelado com um toque cor de rosa, que só as mulheres têm!
Débora Foguel
Instituto de Bioquímica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Uma curiosidade aguda sobre os motivos de o mar Mediterrâneo ter um azul tão bonito fizeram com que um jovem físico indiano, na década de 1920, descobrisse um fenômeno que hoje é a base de uma técnica poderosa para analisar a matéria.
Ter vencido um câncer na juventude levou a bioquímica Mariana Boroni a se dedicar à pesquisa oncológica, passando pelo estudo de proteínas e pelo uso de ferramentas da informática e da biologia molecular para tentar responder perguntas cruciais da oncologia.
Apaixonada pela matemática desde pequena, Carla Negri Lintzmayer, vencedora do prêmio ‘Para Mulheres na Ciência 2023’, escolheu a ciência da computação para investigar questões estruturais de casos reais ou teóricos e resolver problemas de forma eficiente.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |