Em novembro do ano passado, a gigante da computação IBM anunciou a construção de um chip contendo 50 unidades de informação quântica (50 q-bits), que tem capacidade de processamento muito maior que a de qualquer computador da atualidade. Em março deste ano, a Google também anunciou sua versão de chip quântico contendo 72 q-bits. O investimento de grandes empresas nessa nova tecnologia pode promover, em poucos anos, uma profunda revolução no conhecimento. Como funcionam essas máquinas? E, afinal, para que elas servem?
Desde a descoberta do transistor, em 1947, os computadores têm dobrado sua capacidade de processamento a cada cerca de 1,5 ano. Esse é um fenômeno da tecnologia conhecido como lei de Moore– referência ao engenheiro e empresário norte-americano Gordon Moore, que a descreveu em artigo de 1965.
A lei de Moore é decorrência direta de dois fatores: i) compreensão detalhada que se tem sobre a estrutura eletrônica dos materiais usados nos chips de computadores; ii) aprimoramento das técnicas de fabricação de novos materiais e dispositivos. Ambos se complementam e, curiosamente, dependem da capacidade de processamento dos computadores; ou seja, os computadores precisam evoluir para que haja o lançamento de modelos melhores.
Há apenas 30 anos, os computadores eram vistos como máquinas sofisticadas e utilizadas exclusivamente para cálculos complicados e edição de textos. A partir do início da década de 1990, o surgimento da internet rapidamente os transformou na principal ferramenta de comunicação nos meios acadêmico, militar e empresarial. A contínua miniaturização dos componentes eletrônicos e a invenção dos chamados smartphones em meados da daquela década popularizou de vez a internet como instrumento de comunicação –a qual é hoje parte inseparável de nossos costumes. Um simples telefone celular atual é um computador centenas de vezes mais poderoso do que as máquinas enormes de três décadas atrás.
Computadores são indispensáveis na pesquisa científica e tecnológica.Um dos grandes méritos da metodologia científica moderna é a sua capacidade de simplificar problemas para que estes possam ser estudados em computadores. Por exemplo, seria impossível estudar as variações climáticas de uma região ou fazer previsões sobre o clima do planeta se todas as incógnitas do problema (variações de temperatura, pressão, umidade, correntes etc.), de cada região,fossem levadas em conta.
Porém, esse processo de simplificação é, ao mesmo tempo, uma virtude e uma limitação do método. Exemplo: se quisermos conhecer as propriedades de um gás confinado em um recipiente, fazendo a simplificação de que suas moléculas não interagem entre si e que a temperatura do gás não varia com o tempo, podemos relacionar de forma simples a pressão e o volume do gás com sua temperatura. Mas, se as moléculas interagirem entre si e/ou a temperatura do gás variar com o tempo, torna-se quase impossível fazer uma descrição completa das propriedades.
Para compreendermos completamente as propriedades de tal sistema em uma simulação computacional, teríamos que acompanhar as posições e velocidades de todas as moléculas (algo em torno de 1024 números) variando ao longo do tempo. Isso está muito além da capacidade de qualquer computador atual ou que possa vir a existir.
Para se ter uma ideia do que representa lidar com um número da ordem de 1024, suponha que um computador seja programado para registrar a cada hora as posições e velocidades dos veículos automotores existentes na Terra.Supondo que cada um deles esteja equipado com GPS e, estimando que haja 1,5 bilhão de veículos atualmente rodando no planeta, o computador deve registrar 6 x 1,5 x 109 – o que podemos arredondar para 1010 números a cada leitura – no caso, o fator ‘6’ se refere a três coordenadas de posição (x, y, z) e três de velocidade (vx, vy, vz) para cada veículo. Esse número é enorme; porém, 100 trilhões de vezes menor do que aquele do exemplo do gás.
Já um computador quântico operando com ‘meros’80 q-bits (bits quânticos) poderia acompanhar as posições e velocidades de todas as moléculas do gás. Esse é apenas um entre uma quase infinidade de problemas cujos detalhes não se conhecem por conta das limitações da computação atual – dita clássica, em oposição à quântica. É isso que torna os anúncios da IBM e da Google sobre seus chips quânticos tão importantes.
Como funcionam?
Mas como essas máquinas funcionam? Antes de prosseguirmos, é preciso dizer que existem ainda muitas barreiras tecnológicas importantes a serem vencidas até que a computação quântica se torne um artigo de uso comum. No entanto, há hoje um otimismo que não existia há poucos anos, o que já provoca efeitos sensíveis no mercado de trabalho em computação quântica. Em 2015, havia quase 600 patentes registradas relativas à computação quântica em diversos países.