Instituto de Ciências Sociais
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Programa de Mestrado em Ciências Sociais
Universidade Federal de Juiz de Fora

São quase 1 bilhão de usuários e cerca de 3 bilhões de postagens diárias. A magnitude da penetração social do Facebook – lançado em 2004 pelo programador norte-americano Mark Zuckerberg – é indiscutível. Embora experimente uma desaceleração de novas adesões e mesmo uma retração em mercados mais antigos, como os Estados Unidos (redução de 0,6% no número de usuários no primeiro semestre de 2012), não há dúvida que essa plataforma de interação social continua a ser o mais bem-sucedido produto da segunda geração da rede mundial de computadores – a chamada Web 2.0.

Seu sucesso estaria vinculado, buscam demonstrar os estudiosos, à vitória na busca de hegemonia na constituição das chamadas ‘redes sociais’. Plataformas on-line, como o Facebook, possibilitam vínculos frágeis e remotos entre pessoas que talvez nunca se encontrem face a face. Ali, os usuários procuram gerenciar bases de conhecidos, manter contato com pessoas desconhecidas e com outros dos quais, de outra forma, teriam poucas notícias.

O que significa ter ‘1 milhão de amigos’ nessa plataforma?

Não há como negar que isso é feito de maneira eficiente no Facebook. Mas o que significa ter ‘1 milhão de amigos’ nessa plataforma? Há razões para crer que sua contínua expansão exigirá a superação da atual ‘pax Zuckerberg’, essa aparente hegemonia de uma plataforma de acesso a redes sociais. Talvez essa superação surja da reinvenção do próprio Facebook. Talvez não. Vejamos por quê.

O espírito da Web 2.0

A primeira geração da rede mundial de computadores se baseava em conceitos como o de sítio (site), locais preparados para receber visitantes passivos e que pareciam oscilar em seus objetivos entre algo como galerias de arte e panfletos varejistas. Era a época do correio eletrônico (e-mail) e das ferramentas de buscas: primeiro o Yahoo!, depois o Google. A internet era administrada por web designers e programadores – entre estes, alguns mais habilidosos usariam seus conhecimentos para invadir sítios e outros sistemas, às vezes com propósitos ilícitos, e ficariam conhecidos como hackers.

FacebookEntretanto, à medida que cresciam a capacidade de processamento dos computadores pessoais, a qualidade e a facilidade da digitalização e produção de conteúdo (textos, filmes e fotos amadoras), e principalmente as velocidades de fluxo de dados, o recurso a profissionais para produzir conteúdo tornou-se desnecessário. Além disso, o conceito de página na internet (homepage) como portfólio pessoal ou empresarial mostrou-se insuficiente para atender às demandas de uma inclusão digital que se expandiu de modo explosivo, tanto na demografia dos usuários quanto na infraestrutura tecnológica. Para dar uma ideia, somente no Brasil havia 19 milhões de internautas antes da criação do Facebook em 2004. Hoje, são mais de 81 milhões.

Em 2004-2005 e 2007-2008, ocorreram saltos no número de usuários. Coincidência ou não, o primeiro salto coincide com a explosão do Orkut, primeira plataforma de redes sociais com ampla capilaridade no Brasil (ver ‘A invasão brasileira do Orkut’). Já o salto de 2008 certamente está relacionado ao aumento igualmente significativo do número de usuários de computadores nas residências, resultado da diminuição dos custos dos equipamentos.

Vale ressaltar, ainda, que é também nesse ano que se verifica uma queda de 34% dos usuários do Orkut na América Latina, sinalizando a entrada na região de outras plataformas, em particular o Facebook. Este, no Brasil, ultrapassou o número de usuários do Orkut em setembro de 2011.

Do ponto de vista de conteúdos, a nova inclusão digital e suas demandas induziram uma adaptação, tanto desejada quanto forçada, a um público cada vez mais amplo e diversificado. Os novos internautas eram ávidos por interação, mas estavam pouco preocupados com os protocolos ou a estética profissional requeridos para uma boa navegação por sítios de interesse.

Essas novas demandas de usabilidade das redes ensejaram críticas estetizadas ao chamado ‘culto do amadorismo’ – a ideia, propalada pelo teórico norte-americano Andrew Keen, de que o espaço cibernético estaria gerando uma cultura de banalidades e informações imprecisas, em meio à proliferação de autores.

O crescimento da demanda por conteúdo encontrou vazão em redes de colaboração e em formas de reprodução que superaram as expectativas dos entusiastas dos meios de comunicação social

Mesmo que tal crítica, no fundo, demonstrasse apenas o incômodo dos setores mais escolarizados da sociedade por ver seus identificadores de distinção serem rapidamente assimilados, copiados e massificados, o fato é que o crescimento da demanda por conteúdo encontrou vazão em redes de colaboração e em formas de reprodução que inegavelmente superaram as maiores expectativas dos grandes entusiastas dos meios de comunicação social no século passado.

O novo modelo introduzido pela Web 2.0 tornou a produção de conteúdo pouco rentável e subverteu fortemente a economia dos sítios, gerando um novo modelo mais complexo, onde oferta e demanda, produção e consumo, não podem mais ser atribuídas a atores distintos. Foi ao se apresentar como território dessa interação que o Facebook se mostrou mais eficiente que outras plataformas de interação como Orkut e MySpace e, por ora, até mais que o Twitter.

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José Eisenberg

Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Rodrigo Mudesto

Programa de Mestrado em Ciências Sociais
Universidade Federal de Juiz de Fora

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