Rio de Janeiro

O francês Cédric Villani é notável. Motivos: i) aos 39 anos de idade, é diretor do Instituto Henri Poincaré, em Paris, um dos mais conceituados centros de matemática do mundo; ii) brilhante, como atesta a Medalha Fields (o ‘Nobel’ da matemática), de 2010; iii) ativo na divulgação científica, coisa para a qual muito cientista torce o nariz; iv) é excelente palestrante e muito engraçado.

Mas, na falta de enfoque melhor, a mídia tem ficado mesmo com: v) o modo como ele se veste; vi) o fato de ter ganhado – de um jornalista – o apelido de Lady Gaga da matemática; e vii) sua personalidade ímpar, pois não dá explicações sobre v) e não se importa com vi).

Villani é notável porque é jovem, brilhante, pai de família – tem dois filhos –, diretor de um instituto de pesquisa, ótimo palestrante e matemático profissional do mais alto nível. E tem personalidade. Logo depois de sua passagem recente pelo Brasil, Villani concedeu à Ciência Hoje, por correio eletrônico, a entrevista a seguir – sem perguntas sobre roupa ou cantoras pop.

Como começou seu interesse por matemática? Um professor, um livro, um fato marcante?
Como todos os outros pesquisadores, lembro-me de alguns professores da época em que eu tinha 14, 15 anos de idade. Também me lembro de alguns livros. Um deles, maravilhoso, com exercícios sobre triângulos; outro sobre matemática para crianças, com fatos sobre a vida de [matemático alemão Friedrich] Gauss [1777-1855] e tópicos sobre sistemas para computação, tendo muitas imagens e cores. Lembro-me de um desenho animado de Walt Disney; de livros de [cientista da cognição Richard] Hofstadter [mais conhecido por Gödel, Escher, Bach: um entrelaçamento de gênios brilhantes, traduzido em 2001 para o português]. Não houve algo decisivo, mas uma série de estímulos e coisas que estavam em meu mundo. Deixem-me ressaltar que a questão que vocês me perguntam é a mesma que muitos outros têm me perguntado. E acho que isso não é por acidente: essa é a questão central que devemos responder sobre o futuro de nossa sociedade: como fazer as crianças e jovens se interessarem por ciência?

Essa é a questão central: como fazer crianças e jovens se interessarem por ciência?

Quando o senhor decidiu que queria ser um matemático, que poderia dedicar uma vida à matemática e viver desse tipo de trabalho? E, naquele momento, quais eram suas expectativas? Isso ocorreu realmente tarde, durante meu doutorado, mais ou menos. Naquele momento, o que era gosto se transformou em paixão. Eu não tinha expectativas em especial; estava simplesmente feliz por fazer matemática – então, não me preocupei. Nunca vislumbrei uma carreira, fazendo planos de longo prazo…

É comum que crianças que se mostrem interessadas em matemática se envolvam em competições nessa área, como as chamadas olimpíadas. Como o senhor vê o papel desse tipo de competição? No geral, haveria um efeito positivo ou essas competições transformam possíveis pesquisadores em competidores apenas, os chamados matletas?
Não tenho opinião formada sobre isso. Nunca participei de uma olimpíada, nem de competições. Há muitos vencedores dessas olimpíadas que se tornaram ótimos pesquisadores – como [Terence] Tao, Ngô [Bao Châu], [Grigori] Perelman, [Stanislav] Smirnov, [László] Lovasz – e muitos exemplos de vencedores que não têm interesse em pesquisa. Alguns dos talentos necessários para as olimpíadas são similares àqueles necessários na pesquisa: gosto por resolver problemas, inventividade… Outros desses talentos são completamente diferentes daqueles necessários na pesquisa: habilidade para encontrar problemas por si só; trabalhar por longos períodos de tempo; independência…

Você leu apenas o início da entrevista publicada na CH 300. Clique no ícone a seguir para baixar a versão integral.

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