Questão importante diz respeito à escala de processos associada ao tempo atmosférico e ao clima. Tempo e clima são conceitos relacionados, mas distintos. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) define o tempo atmosférico como o estado da atmosfera em determinado momento, caracterizado pelos elementos meteorológicos, incluindo temperatura, precipitação, pressão atmosférica, vento e umidade.
Já o clima refere-se às condições meteorológicas consistidas em valores médios para certo local em longo período. A OMM define um período de 30 anos para determinar as condições médias do clima de dado lugar.
Essa diferenciação é fundamental quando buscamos compreender fenômenos complexos do sistema climático. No caso aqui discutido, nem sempre um mês registrado como mais quente vai ser o mesmo mês em que também se registra um dia anomalamente quente ou dias consecutivos extremamente quentes – que é o caso das ondas de calor.
Mas 2016 e este ano foram marcados por eventos extremos de tempo atmosférico (notadamente, ondas de calor), num cenário em que dias extremamente quentes consecutivos acabaram ajudando a ‘puxar’ as médias de temperatura mensais para cima, contribuindo para a quebra de recordes de alguns dos meses.
Esse foi o caso da onda de calor no Ártico em 2016. Essa região apresentou, em termos médios para o ano, anomalias da ordem de +2 oC, como citamos acima. Ainda que, de forma não linear, os impactos de episódios El Niño no Ártico sugiram a redução do gelo marinho, o mês de novembro de 2016 apresentou uma onda de calor que registrou valores de anomalia diários da ordem de +15 oC em relação à média histórica para o mês.
Após intensa investigação, pesquisadores atestaram que esses valores anômalos foram efetivamente atribuídos às mudanças climáticas globais.
O mesmo se pode dizer sobre este ano quanto às ondas de calor que assolaram parte significativa do território brasileiro. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) define onda de calor como o período de dois a três dias consecutivos com temperaturas, pelo menos, 5 oC acima da média do mês, em determinado local.
Este ano, até novembro, foram registradas oito ondas de calor – cinco delas a partir do mês de agosto, quando o El Niño já estava instalado. A onda de calor ocorrida em setembro registrou pico de 43,5 oC de temperatura no município de São Romão (MG). Este novembro, no Brasil, registrou valores absolutamente sem precedentes: o município de Araçuaí (MG) apresentou, no evento de onda de calor, um pico de temperatura de 44,8 oC.