Criar uma cultura oceânica, com pessoas informadas e conscientes sobre a influência que elas exercem no oceano e vice-versa, é crucial para um futuro saudável, produtivo, limpo e seguro do ambiente marinho.
CRÉDITO: ADOBE STOCK
O mês do oceano (junho) é uma iniciativa importante para compreender o impacto que ele tem em nossas vidas, assim como a influência que nós exercemos nele. Mas um mês só não é suficiente. É necessário nos conscientizarmos sobre o fato todos os dias, até virar um hábito.
O conhecimento transforma a maneira como pensamos e agimos. Quanto mais conhecemos algo, mais nos apropriamos e nos desenvolvemos a respeito. Com a alfabetização, por exemplo, começamos aprendendo as letras e sílabas para depois formar palavras, frases, um texto curto e, enfim, um longo.
A alfabetização pode ser estendida a outras áreas do conhecimento. Quando se pensa no oceano, a maioria das pessoas não consegue enxergar, entender e absorver a importância desse ambiente para todas as formas de vida no planeta – sejam elas aquáticas ou não. E isso tem a ver com o fato de não sermos ‘alfabetizados’ nesse ramo do conhecimento. A alfabetização oceânica requer que saibamos conceitos-chave para compreender o oceano.
Em 2022, a pesquisa ‘Oceano sem mistérios: a relação dos brasileiros com o mar’, realizada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Unesco e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a partir de duas mil entrevistas, com participantes de 18 e 64 anos, de todas as classes sociais, nas cinco regiões do país, mostrou que apenas 34% das pessoas compreendem que suas ações influenciam diretamente o oceano; 24% consideram que o impactam de forma indireta e 40% acreditam que suas atitudes não impactam em nada.
Há grande desconexão do oceano com a sociedade. É preciso mudar essa realidade; afinal, o oceano molda a vida na Terra: quase 90% do PIB brasileiro passa pelos oceanos, o sal adicionado à comida vem do mar, o combustível que move os transportes provavelmente foi retirado do fundo do mar, a ocorrência de seca ou chuva de cada região pode estar relacionada a um fenômeno oceanográfico, há medicamentos feitos de substâncias marinhas, grande parte do oxigênio que respiramos vem de organismos marinhos, a internet é muitas vezes conduzida via cabo submarino, há uma diversidade de alimentos de origem marinha… Não faltam exemplos para nos conectar com o mar.
O ensino básico pode ser uma das formas de adquirir conhecimento sobre o oceano. Entretanto, na Base Nacional Comum Curricular, que norteia as redes de ensino brasileiras, as temáticas relativas ao ambiente marinho têm pouca ênfase. O oceano aparece em apenas duas das expectativas propostas para todo o ensino formal: em uma habilidade da disciplina de geografia do 5º ano – Reconhecer e comparar atributos da qualidade ambiental e algumas formas de poluição dos cursos de água e dos oceanos (esgotos, fluentes industriais, marés negras etc.) –; e em uma habilidade de história do 7º ano – Identificar conexões e interações entre as sociedades do Novo Mundo, da Europa, da África e da Ásia no contexto das navegações e indicar a complexidade e as interações que ocorrem nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.
Além do ensino básico, e apesar do extenso litoral brasileiro, há poucos cursos universitários voltados para Oceanografia e afins, como Engenharia de Pesca e Engenharia Naval.
De acordo com o livro O Brasil e o Mar do Século 21, mentalidade marítima é a convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a nação brasileira e o desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamentos ou vontade de agir no sentido de utilizar, de forma sustentável, as potencialidades do mar.
Para aqueles que moram no interior e nunca se aproximaram do litoral, o primeiro estímulo de mentalidade marítima pode ser, por exemplo, por meio de filmes ou músicas. A mídia, que tem grande influência sobre a sociedade, detém o importante papel de promover o conhecimento sobre o oceano, embora isso ocorra muitas vezes de maneira superficial e fragmentada.
A falta de mentalidade marítima não se restringe ao Brasil. Em 2002, surgiu nos Estados Unidos a iniciativa Ocean Literacy, letramento ou alfabetização oceânica, ou ainda ‘cultura oceânica’, porque um grupo de pesquisadores percebeu que as escolas não ofereciam disciplinas relacionadas ao oceano e criaram um projeto para incorporar a temática nos currículos escolares. Desde então, o movimento foi adotado pela Unesco e se espalhou pelo mundo.
Segundo a Unesco, a cultura oceânica se baseia em 7 princípios: a Terra tem um oceano global e muito diverso; o oceano e a vida marinha têm uma forte ação na dinâmica da Terra; o oceano exerce uma influência importante no clima; o oceano permite que a Terra seja habitável; o oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas; o oceano e a humanidade estão fortemente interligados; há muito por descobrir e explorar no oceano.
Esses princípios trazem conhecimentos importantíssimos que precisam ser homogeneizados para que todos possamos colaborar com a proteção do oceano. Seja você um pescador, cientista, agricultor, empresário ou governante, é preciso tratar o oceano com respeito e, sobretudo, conhecê-lo. Trazer à luz a importância ecológica, econômica e social do ambiente marinho, assim como suas fragilidades, é possível por meio da promoção da cultura oceânica!
Precisamos de pessoas informadas, conscientes, agindo e influenciando outras para ter o oceano que queremos no futuro: limpo; saudável e resiliente; produtivo; previsível; seguro; transparente; inspirador e envolvente.
*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo e com o Projeto Ressoa Oceano, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
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Cada vez mais, a economia circular deve se voltar para o ambiente marinho, com o objetivo de ter um oceano limpo, saudável e resiliente, previsível, seguro, sustentável e produtivo, transparente e acessível, e conhecido e valorizado por todos, como recomendam as Nações Unidas.
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