Há cerca de 1,9 milhão de anos os ancestrais da espécie humana já ocupavam as zonas costeiras. Certamente sobreviveram e prosperaram graças aos numerosos recursos naturais e benefícios oferecidos pelos ecossistemas costeiros, como abrigo, proteção, alimento, água e materiais para ferramentas, utensílios e adornos. Nos muitos milhares de anos que se seguiram, os humanos evoluíram, superando e se adaptando a quatro grandes ciclos de mudanças climáticas drástica de resfriamento (períodos glaciais) e aquecimento (períodos pós e interglaciais) do planeta, respectivamente acompanhados de descidas e subidas do nível médio do mar.
Durante as fases de resfriamento e regressão marinha, a costa avança paulatinamente sobre o mar, deixando para trás extensas áreas emersas. E foi esse um dos processos que permitiu a migração do homem moderno e o povoamento de todos os continentes. Milhares de anos se passaram até o advento da agricultura, que possibilitou o abandono da vida nômade e o surgimento dos primeiros assentamentos humanos, em sua maioria junto ao litoral. Com o tempo, as populações e suas atividades econômicas foram se expandindo, e surgiram as cidades costeiras. A exploração dos recursos naturais se intensificou, acarretando perda dos inúmeros serviços ecossistêmicos que tanto beneficiaram nossos ancestrais. Também se alastrou a ocupação de áreas vulneráveis à ocorrência de ameaças naturais, aumentando a suscetibilidade aos perigos geodinâmicos que podem desencadear desastres.
Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo, essas ameaças estão relacionadas à atuação de eventos meteorológicos intensos, como fortes tempestades e ciclones, que trazem grande volume de chuvas, frentes frias e eventos meteorológicos-oceanográficos conhecidos como ressacas do mar e marés altas anômalas. Os perigos decorrentes dessas ameaças são materializados em vários processos geodinâmicos, entre eles: erosão aguda nas praias, inundações costeiras, inundações continentais e escorregamentos nas encostas.
O registro histórico de eventos meteorológicos-oceanográficos intensos/extremos que atingiram a costa paulista entre 1928 e 2016, revela que, somente nos primeiros 16 anos do século 21, o número total de eventos dobrou, o número de ressacas triplicou, e o número de eventos por ano deu um salto de 1,3 (século passado) para 8,6. Além disso, a intensidade dos eventos também aumentou, pois 66% dos 50 eventos extremos (aqueles que combinam ressacas e marés altas anômalas) registrados ocorreram neste século. A magnitude dos eventos, que pode ser medida pela média de dias de duração dos mesmos, também aumentou, passando de 1,8 dia no século passado, para 2 dias entre 2000 e 2016. É muito provável que esses resultados estejam associados aos efeitos das mudanças climáticas em curso, porque comportamentos similares estão ocorrendo em outras regiões do Brasil e do planeta.
Além desses fenômenos de curta duração, outra importante ameaça é a elevação do nível do mar pelo aquecimento global. Essa elevação tende a provocar erosão crônica nas praias, que vão se tornando cada vez mais estreitas e podem até desaparecer, sobretudo quando atingidas por sucessivos eventos meteorológicos-oceanográficos intensos (erosão aguda). Projeções mundiais indicam que o nível do mar deve se elevar em cerca de um metro até 2100.
Mas a erosão das praias também pode ser causada, ou acelerada, pelas intervenções humanas na linha de costa. As de maior impacto são: avanço da urbanização sobre a praia, remoção das dunas frontais, retirada de areia das praias (para limpeza pública e outros propósitos) e artificialização da orla com obras de engenharia inadequadas, projetadas para tentar “proteger” as estruturas urbanas.
As soluções mais eficazes para mitigar ou reduzir a erosão nas praias e, assim, minimizar os impactos dos eventos intensos e extremos, hoje e futuramente, são as medidas de adaptação baseadas na natureza. Estamos falando de políticas públicas com inserção dos riscos costeiros e climáticos, programas de educação ambiental para conscientização sobre os perigos do oceano, engajamento das comunidades locais na tomada de decisões e na fiscalização das praias, criação de zonas de amortecimento para minimizar os impactos dos eventos extremos e da elevação do nível do mar (uma faixa frontal sem edificações, que inclua remoção e/ou realocação das estruturas antrópicas e recuperação das dunas frontais), além de recuperação da praia com soluções baseadas na natureza (alimentação/engorda/alargamento artificial com areias trazidas de fora da praia).
É necessário e urgente mudarmos o paradigma estabelecido e entender que a função mais importante das praias é proteger as cidades e os demais ecossistemas costeiros dos perigos do oceano.
Celia Regina de Gouveia Souza
Instituto de Pesquisas Ambientais
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Geografia Física
Universidade de São Paulo
A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo.
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