Muito antes da aprovação da Lei 10.639, em 2003, ativistas e intelectuais negros elaboravam suas próprias narrativas para educar a sociedade brasileira contra o racismo e a discriminação racial, a partir dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira. Nas rodas de capoeira, terreiros dos clubes negros, escolas de samba, blocos afros e associações culturais, bem como nos inúmeros grupos de poesia, teatro e da imprensa negra circularam e circulam criações que nos ensinam sobre a história da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Com a lei, que estabelece o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira nas escolas, essas ações educativas se tornaram ainda mais comuns, passando a alcançar um público mais amplo e de fora da comunidade negra. 

O Projeto Querino, um podcast concebido e conduzido pelo jornalista Tiago Rogero, da Rádio Novelo, é uma dessas ações educativas. Trata-se, efetivamente, de uma ação pedagógica de história pública que tem explícitos objetivos antirracistas, pois coloca os africanos e seus descendentes no centro da narrativa histórica brasileira. A iniciativa de Rogero colabora para o letramento racial antirracista, porque direciona nosso olhar para compreender o Brasil a partir das epistemologias e lugar de fala negros. No podcast, as personagens negras do passado são apresentadas com suas agências; protagonizam ações e trajetórias, e essas narrativas nos ensinam a ressignificar pessoas negras em lugares de produção de conhecimento científico, artístico, histórico etc.