“Visto a vinte metros, cada retrato é uma pequena massa de vida, dura como um cascalho, repleta como um ovo, que poderia sem esforço alimentar cem outros retratos.”

A declaração é do escritor francês Jean Genet (1910-1986) sobre a obra do artista suíço Alberto Giacometti (1901–1966), com o qual manteve intenso convívio na década de 1950. O artista, que tanto fascinou Genet, é objeto este ano de quatro publicações e uma grande mostra no país.

A mostra, com curadoria da francesa Véronique Wiesinger, conta com 281 peças do acervo da Fundação Alberto e Anette Giacometti, sediada em Paris, de que ela é diretora. Esculturas, pinturas, desenhos e documentos de toda sua trajetória estão sendo exibidos desde 24 de março na Pinacoteca do Estado de São Paulo e, em julho, seguem para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ).

“O público pode ver obras variadas, culminando com aquelas esculturas delgadas do período final de sua obra”

“O público pode ver obras variadas, culminando com aquelas esculturas delgadas do período final de sua obra, peças às vezes minúsculas, às vezes altas, mas finíssimas, e precisa estar desarmado, pois a sua exiguidade pede um olhar atento e livre das convenções da arte”, afirma a artista plástica Célia Euvaldo, tradutora de diversos textos sobre o artista, como Retrato de Giacometti, do americano James Lord, e O ateliê de Giacometti, de Jean Genet.

Filho do pintor impressionista Giovanni Giacometti, Alberto fez parte do grupo surrealista de André Breton (1896-1966) na década de 1930 e, mais tarde, ficou conhecido por suas esculturas humanas, pequenas e alongadas.

“A anedota que se conta é que Giacometti queria desenhar uma cabeça e isso era inaceitável para os surrealistas. Por isso, rompeu com o grupo”, relata Euvaldo. Em 1962, o artista foi consagrado com o Grande Prêmio de Escultura na Bienal de Veneza.

Walking man
A emblemática ‘O homem que anda’, a mais reconhecida escultura de Giacometti – um marco da arte moderna. (foto: Joe Logon/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

O filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) também escreveu sobre Giacometti. Dois de seus ensaios, traduzidos por Euvaldo, foram publicados este ano pela editora Martins Fontes.

“Sartre fala como Giacometti confere uma distância absoluta a seus personagens de gesso”, conta a artista plástica. “Mesmo que se aproxime de suas esculturas, elas continuam distantes. Ele é capaz de colocar a distância ao alcance da mão.”

Para Sartre, não é possível aproximar-se de uma escultura de Giacometti: “é o bloco de gesso que está perto, é o personagem imaginário que está longe”, escreveu no ensaio A busca do absoluto.

Simultaneamente à exposição em São Paulo, foram lançados dois livros pela editora Cosac Naify: Alberto Giacometti, com o material da exposição enriquecido com textos da curadora e demais obras do acervo da Fundação, e Um olhar sobre Giacometti, escrito pelo crítico de arte David Sylvester, com ensaios e entrevistas.

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Gabriela Reznik
Ciência Hoje/ RJ

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