Em uma aula de química, o aluno, em vez de usar unicamente o livro didático, é convidado a ler textos de divulgação científica. Por meio deles, é incentivado a elaborar perguntas e compreender os diferentes aspectos que envolvem a prática científica. Essa abordagem didática tem ganhado muitos adeptos no meio escolar e é o foco da análise desenvolvida pelas químicas Salete Linhares Queiroz e Luciana Nobre Ferreira, do Grupo de Pesquisa em Ensino de Química do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo.
As autoras analisaram diversos artigos de capa da revista Ciência Hoje com assuntos relacionados à química. Interessada em literatura e escrita, Ferreira optou por trabalhar com os artigos de divulgação por apresentarem a ciência de forma mais acessível aos alunos. “É um tipo de texto que pode ajudar a suprir certas lacunas em sala de aula; por ter elementos textuais que chamam a atenção dos alunos, como as chamadas de títulos, o uso de imagens, e pela aproximação com o cotidiano”, afirma.
A análise foi divulgada na versão eletrônica da revista Química Nova em outubro do ano passado. No estudo, 39 artigos e reportagens publicados na revista entre 2004 e 2009 foram catalogados e divididos em três categorias (química, fronteiras e temas transversais) segundo os conteúdos abordados. Destes, 32 se enquadraram nas categorias fronteiras e temas transversais, e, segundo as autoras, podem ajudar a tornar o ensino de química mais interdisciplinar e contextualizado.
Um segundo estudo foi publicado na Revista Electrónica de Enseñanza de Las Ciencias, periódico espanhol quadrimestral, examinando o material conforme seu teor didático, científico ou cotidiano.
O levantamento permitirá que docentes do ensino médio e fundamental escolham os textos para trabalhar com os estudantes segundo o tema e a perspectiva adotada na exposição do conteúdo. Além disso, as autoras incluirão relatos de experiências realizadas nas escolas com o uso dos artigos categorizados.
Foi na turma de nono ano da Escola Estadual Professor Marivaldo Carlos Degan, na periferia de São Carlos, que uma dessas experiências aconteceu. Em 2009, o professor Osmair Benedito da Silva, com a ajuda de Ferreira, propôs aos alunos a leitura do artigo intitulado ‘Energia verde’, publicado em novembro de 2006.
Como o tema da aula era poluição e combustíveis fósseis, o artigo – cujo tema é biocombustíveis – trouxe um contraponto. Os alunos formaram grupos cooperativos, divididos conforme suas habilidades, e fizeram uma leitura compartilhada. Depois, discutiram o tema e realizaram um trabalho final. “Saímos do lugar-comum, da aula tradicional expositiva, e eles gostaram muito”, conta Silva.
Ferreira ressalta que os artigos podem amenizar a densidade do conteúdo científico e mediar o entendimento dos alunos usando temas que não estão diretamente relacionados ao currículo escolar. “Muitas vezes temos dificuldade em fazer o aluno entender a ligação entre o mundo macro e micro da química, e os artigos de divulgação científica ajudam nessa mediação”, diz.
Gabriela Reznik
Ciência Hoje/ RJ