A pandemia de covid-19 não tem sido brincadeira. Milhões de cidadãos já sucumbiram ao coronavírus e suas variantes. Talvez seja a maior catástrofe do século 21. A resistência contra esse tsunami mundial impulsionou o protagonismo da ciência. Pesquisadores logo identificaram o vírus, mapearam a estrutura do seu material genético e suas proteínas, descobriram como ele entra em nossas células e como se instala no pulmão e alhures, revelando o estrago que causa e que pode nos levar à morte. Depois, assistimos à busca infrutífera por tratamentos precoces e tardios e, por fim, ao desenvolvimento de vacinas. Essa parece ser a salvação da nossa espécie contra esse microrganismo tão simplório quanto letal.
Esse cenário nos induz a pensar. Foi necessário mobilizar pesquisadores de várias disciplinas. Da biologia molecular à epidemiologia. Da imunologia às ciências sociais. Mobilizou-se a expertise multidisciplinar disponível em todos os países, chamada pesquisa translacional, e que pode receber um adjetivo essencial: pesquisa translacional ‘proativa’. Em que consiste esse termo sofisticado? É o que o cientista social americano Donald Stokes chamou “quadrante de Pasteur”, definido como o espaço de confluência de todas as ciências para a resolução de questões de interesse social.
É ‘pesquisa’ porque busca compreender o mundo por meio do método científico (o que são vírus, como se reproduzem, como causam doenças). É ‘translacional’ porque se estende da pesquisa básica à inovação (dos vírus às vacinas). E é ‘proativa’ porque não apenas estuda passivamente a realidade, mas propõe intervenções baseadas no conhecimento científico (as vacinas e a imunização em massa). O adjetivo final implica a ciência entrando em ação não apenas para avaliar um fenômeno a posteriori, usando o método científico, mas para intervir nele logo de saída.
A pesquisa translacional proativa tem sido aplicada à saúde pública com sucesso. Não é por outra razão que as taxas de mortalidade infantil têm se reduzido em quase todo o mundo. Também é por isso que a expectativa de vida tem aumentado nas últimas décadas. Morre-se menos na infância e na vida adulta, e vive-se mais além dos 70 anos. Uma virada de jogo em relação ao cenário de cem anos atrás. O golpe que a pandemia terá produzido nesses indicadores ainda não está determinado. Mas o protagonismo da pesquisa translacional proativa em saúde é irretorquível.
Agora, o que dizer da educação? Além da desigualdade entre países e entre classes sociais de cada país (como também acontece na saúde), os indicadores apontam para uma inquietante estagnação, como a média do índice PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Trata-se de um exame promovido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico aplicado a estudantes ao final do ensino fundamental em cerca de 70 países. Há algumas décadas, desde que foi lançado, em 1997, o índice PISA médio entre todos os países se mantém estagnado. Um país aqui avança um pouco, o outro ali regride, e obviamente há campeões com índices altos de proficiência, e outros rebaixados ou na zona de rebaixamento. É o caso do Brasil, infelizmente, cujo baixo índice tem melhorado em um ritmo lento que só nos permitirá atingir a média por volta de 2060. Qual a razão dessa estagnação?
É simples. Não conseguimos construir um “quadrante de Pasteur” no âmbito da educação, como fizemos para a saúde. Não criamos um ecossistema de pesquisa translacional proativa em educação. As intervenções propostas para a sala de aula são intuitivas ou ideológicas, embora já tenhamos instrumentos de avaliação rigorosos, que só nos permitem constatar o cenário terrível e como faremos para mitigar as consequências da pandemia na educação.
Trata-se de pesquisa translacional reativa, e não proativa. Cada intervenção que se propõe só pode ser avaliada vários anos depois, tendo, portanto, uma alta taxa de risco de insucesso. Se ela é ineficaz, perdemos tempo. Falta, pois, construir um parque científico multidisciplinar voltado para a educação. É necessário reunir todo o nosso capital humano diferenciado para a ciência em torno do estudo de como os seres humanos aprendem, como seus cérebros armazenam informação, como se pode incutir da maneira mais eficiente nas crianças as habilidades socioemocionais que o progresso veloz das tecnologias impõe. A educação baseada em evidências pode nos apontar os melhores caminhos a percorrer, com menos tempo e melhores resultados.
Saúde tem ciência, todos sabemos. Educação também.
Roberto Lent
Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino
Enquanto todos os organismos vivos transmitem sua informação genética de geração a geração sempre da mesma forma, os vírus, esses parasitas acelulares, adotam variadas e surpreendentes maneiras de se replicar nas células de seus hospedeiros.
Um grupo multinacional de pesquisadores, incluindo brasileiros, sugere que os pterossauros tenham descendido de pequenos répteis que viveram há cerca de 237 milhões de anos. O trabalho mostra que, quando há investimento, a pesquisa nacional floresce em todas as áreas.
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Com uma carreira expressiva em ensino e pesquisa, a química Maria Domingues Vargas fala dos estereótipos de gênero e dos vieses inconscientes combatidos pelo Grupo de Trabalho Mulheres na Ciência, da Universidade Federal Fluminense.
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A evolução das técnicas de registro de imagens biológicas tem permitido avanços significativos na investigação de doenças e na obtenção de diagnósticos mais rápidos e precisos, mas ainda é necessário investir em qualificação profissional e infraestrutura para a área
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