Elementais contemporâneos

Instituto de Química
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Nova coluna mostra como a química está presente em nosso cotidiano e é área fundamental para solucionar grandes problemas de nosso planeta

CRÉDITO: IMAGE ADOBE STOCK

Elementais são seres místicos, espíritos que habitam os quatro elementos conhecidos no mundo antigo: terra, fogo, água e ar. Inspirado na mitologia grega, o alquimista Paracelso (1493-1541) descreveu esses seres no tratado Um livro sobre ninfas, sílfides, pigmeus e salamandras, e sobre outros espíritos (tradução livre do título em latim “Liber de nymphis, sylphis, pygmaesis et salamandris et de caeteris spiritibus”). Segundo o texto, cada elemento é habitado por um ser particular. As ninfas eram os elementais das águas; os pigmeus, responsáveis pela terra; salamandras, elementais do fogo, e silfos habitavam o ar. Dizia-se que cada elemento compunha o “caos” desses seres. Eles eram capazes de moldar e manipular o seu elemento, além de viverem em harmonia dentro do seu “caos”. Assim, ninfas não se afogavam na água, pigmeus não entravam em choque com a terra, salamandras não se queimavam com o fogo e os silfos não estavam à mercê de furacões. Em seu tratado, Paracelso relata esses seres de forma bastante poética, com o estilo de escrita peculiar dos grandes alquimistas. Figura proeminente da Renascença, o médico suíço é considerado o padrinho da quimioterapia moderna e teve sua trajetória marcada por teorias controversas e por seu espírito livre e rebelde. 

A esta altura, é possível que o leitor se questione por que um jovem místico está ocupando este espaço dedicado à ciência com essa bagatela esotérica, digna de um blog de astrologia? Não se engane, caro leitor. Os elementais estão entre nós, e mais poderosos do que nunca! 

Se antes eles manipulavam quatro elementos, agora se ocupam de um número que excede uma centena. Alguns, com nomes indecifráveis, e todos organizados em uma tabela (chamada de periódica) cuja capacidade preditiva deixaria o Oráculo de Delfos com inveja. Não podemos negar que esses elementais perderam muito do seu charme desde que passaram a ser chamados de químicos. Seus poderes agora não são nada místicos, e a compreensão do que eles fazem requer bastante estudo. Além disso, largar suas moradias ao ar livre para ocuparem laboratórios abarrotados de equipamentos e pautados por normas de segurança é algo questionável como escolha de vida. Porém, eles se multiplicam a cada dia, e acredita-se que o conhecimento revelado por eles poderá ajudar a humanidade a se livrar de um futuro catastrófico. 

A alquimia, repleta de mistérios e magia, pertence a um passado remoto, apesar de ainda hoje intrigar cientistas, historiadores e curiosos. Já a química, essa se estabeleceu como uma das ciências da natureza – aquela que a todo o momento flerta com a transformação. Químicos desconectam pequenos fragmentos de matéria e enfrentam o ‘caos” para reconstruí-los em moléculas capazes de feitos incríveis. 

Apesar do cunho pejorativo que o termo “substância química” ganhou ao longo da história, devemos combater essa injustiça e entender que uma grande falácia reside por trás do seu uso no senso comum. Pode parecer clichê, mas, sim, tudo é química, o ar que respiramos, os alimentos que ingerimos, os combustíveis que movimentam carros e foguetes, a composição dos ecossistemas que nos cercam… Veja o oceano, por exemplo, um verdadeiro caldeirão, repleto de substâncias químicas, fervilhando por conta de uma miríade de reações fundamentais para a manutenção da vida na Terra.

Pode parecer clichê, mas, sim, tudo é química, o ar que respiramos, os alimentos que ingerimos, os combustíveis que movimentam carros e foguetes, a composição dos ecossistemas que nos cercam…

Nesse contexto, compreender a química é parte fundamental para entendermos a natureza e moldarmos a sociedade na qual estamos inseridos. Está dentre nossas obrigações nos apropriarmos dessa ciência de forma ética e responsável. 

Pois bem, é aí que reside a missão de quem vos escreve: mostrar que a química vai muito além da disciplina (para muitos, chata) da escola e contar o que andam fazendo os elementais contemporâneos – eu sou um deles! 

Grandes problemas da ciência, como a captura de gases de efeito de estufa, a pesquisa por fontes renováveis de energia e o desenvolvimento de fármacos, serão abordados com frequência nesta coluna. Assuntos da atualidade, como as pesquisas com psicodélicos e curiosidades relacionadas à química do cotidiano, também estarão entre nós. Tudo isso – e muito mais – estará aqui de forma acessível e agradável. Conto com seus comentários e sugestões para construirmos este espaço em colaboração.

Comentários (3)

  1. Belíssimo texto, agradável de ler e muito revelador. Desejaria que mais conteúdos nesta direção nos fossem apresentados. Gratidão.

  2. Muito Bom!

  3. Reginaldo José da Silva

    Pobre ciência que se perde na tridimensionalidade das coisas e perde sua essência. Pobre medicina moderna que usa as plantas para seus remédios, sem se importar com suas “almas”.
    O alquimistas ficaram no passado, e com eles, a sabedoria da quarta e quinta dimensões.
    Ficamos felizes com o advento da Mecânica Quântica, que os materialistas insistem em rechaçar, posto que trás nova luz ao materialista de mente mais aberta.
    Ao adentrar além da terceira dimensão, podemos ver, sentir, ouvir e até palpar realidades verdadeiras; a causa das coisas, suas origens…

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