Ciência conectando pessoas

Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA)
Centro de Ciências Naturais e Humanas
Universidade Federal do ABC (UFABC)

A ciência cidadã é um processo que envolve o público interessado por ciência em, pelo menos, uma das etapas de um projeto científico. Essa abordagem gera uma farta teia de benefícios para a sociedade, uma vez que amplifica o processo de coleta e análise de dados, além de contribuir para a alfabetização científica e para o aumento da credibilidade da ciência para as pessoas.

CRÉDITO: FOTO ADOBESTOCK

Encontrar novas espécies habitando nosso planeta, classificar galáxias a milhões de anos-luz, monitorar a qualidade da água, transcrever e digitalizar textos de naturalistas escritos há vários séculos, compreender os impactos das queimadas ou do aquecimento global… O/a leitor/a já se imaginou colocando a mão na massa e fazendo parte dessas e de outras descobertas como um cientista? Já ouviu falar de ciência cidadã? 

A ciência cidadã nada mais é do que um processo que envolve e engaja o público interessado por ciência em pelo menos uma das etapas de um projeto científico, como na elaboração das hipóteses a serem investigadas, na coleta ou análise dos dados, ou ainda, na divulgação dos resultados obtidos. Apesar de, sobretudo na última década, projetos de ciência cidadã estarem despontando mundo afora, veremos que essa prática não representa uma novidade propriamente dita.

Há mais de um século, por exemplo, cidadãos norte-americanos participam do Christmas Bird Count (Contagem Natalina de Aves). Com isso, o público tem gerado dados valiosos que vêm expandindo a compreensão científica sobre padrões de migração e distribuição geográfica de aves, além de reduções ou expansões no tamanho das populações de diferentes espécies desses animais no decorrer dos anos. Essa moda acabou pegando e, atualmente, a contagem de aves ocorre em diversas partes do planeta, incluindo o Brasil.

Engajamento público

Entretanto, o termo ciência cidadã só passou a ser empregado na literatura científica internacional a partir de meados da década de 1990, após as publicações do sociólogo britânico Alan Irwin e do biólogo norte-americano, especialista em aves, Rick Bonney. O primeiro definiu ciência cidadã como um processo de empoderamento social, no qual cidadãos, a partir de um conhecimento sobre conceitos científicos e sobre como a ciência é produzida, poderiam repensar atitudes e comportamentos, bem como demandar soluções do poder público e de tomadores de decisão. 

Já Bonney definiu ciência cidadã como um procedimento de coleta de dados por cidadãos voluntários, e envio desses dados para cientistas, estes últimos responsáveis por analisá-los e publicá-los. Desde então, entende-se a ciência cidadã como um processo amplo, que engloba diferentes possibilidades de engajamento público em ciência. 

Independentemente do tipo de ciência cidadã considerada, tem ocorrido uma enorme popularização de iniciativas, projetos e publicações que se utilizam desse conceito. Para se ter uma ideia sobre essa tendência, ao realizar pesquisa pelo Google Acadêmico (plataforma de busca por produções científicas) contemplando apenas estudos publicados em 2023, o termo ‘Citizen Science’ aparece no título de mais de 1.200 obras. Isso mesmo, só no ano passado, foram publicados mais de mil artigos científicos, em língua inglesa, sobre ciência cidadã no mundo todo.

Independentemente do tipo de ciência cidadã considerada, tem ocorrido uma enorme popularização de iniciativas, projetos e publicações que se utilizam desse conceito

Ainda em 2023, por exemplo, o jovem e curioso cientista cidadão Júlio Cesar Ribeiro fotografou uma espécie de planta da família das bromélias (bromélia-peluda), no vale do rio Doce, em Minas Gerais. A espécie nunca tinha sido estudada por cientistas, os quais receberam o registro e a batizaram de Krenakanthus ribeiranus, em homenagem a Júlio (figura 1). Essa descoberta foi publicada por Elton M. C. Leme e colaboradores na revista internacional Phytotaxa (https://phytotaxa.mapress.com/pt/article/view/phytotaxa.619.1.2).

Figura 1. Planta da família das bromélias (bromélia-peluda) descoberta e fotografada pelo jovem e curioso cientista cidadão Júlio Cesar Ribeiro, no Vale do rio Doce (MG). Em 2023, a espécie foi então descrita e batizada pelos cientistas de Krenakanthus ribeiranus, em homenagem a Júlio. o

Crédito das fotos: Júlio Cesar Ribeiro

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