As narrativas históricas com as quais temos contato ao longo da vida orientam a maneira como definimos quem somos ‘nós’, quem chamamos de ‘outros’ e, com base nisso, nos posicionamos no mundo. Numa dinâmica de identificação e estranhamento sobre pessoas, espaços e temporalidades que reforça o entendimento do que compõe o nosso ser coletivo, interagimos com prioridades, hierarquizações e curiosidades acerca do que precisa ser lembrado e do que pode ser esquecido. Trata-se de um processo educativo em grande medida vinculado às nossas experiências escolares. Ao fazermos isso, participamos da “escrita da História” até mesmo quando não nos sentimos responsáveis por ela, mesmo desde a condição de público leitor/ouvinte que endossa ou critica o que nos é apresentado.
Decidir o que é História, portanto, é um ato político que não pode ser objeto de monopólio de um só grupo, sob o risco de se legitimar a exclusão de amplos segmentos de uma sociedade, tal como se fez contra pessoas negras e indígenas no Brasil por gerações. A fixação no que é narrado desde a perspectiva de sujeitos brancos, masculinos, heteronormativos,
concentradores de renda e numericamente minoritários acaba por comprometer a realização de qualquer promessa de democracia efetiva num país como o nosso, pois subtrai a relevância da agência histórica de mulheres e homens do passado e do presente. Não é demais lembrar que isso também afeta nossas projeções de futuro.
Nesse cenário, as constantes queixas dirigidas à chamada ‘história oficial’ atestam que essas simplificações não são verdades secretas, mas tema corrente entre pessoas atentas aos significados profundos da diversidade do povo brasileiro. A julgar pelas lutas protagonizadas por intelectuais ativistas dos Movimentos Negro e de Mulheres Negras, que remetem ao século 19 e ganharam nova intensidade nas últimas décadas, a demanda por narrativas históricas mais justas e sofisticadas tem sido apresentada nos mais variados espaços do cotidiano. Questionam-se os regimes excludentes de legitimação de sujeitos responsáveis pela produção das narrativas históricas, os vícios na formulação de currículos que orientam o ensino escolar e as maneiras como tais escolhas são postas a reverberar em espaços públicos e privados – colocando-se em xeque a naturalização da discriminação racial como parte de nossa sociabilidade.
A superação do racismo segue sendo uma tarefa árdua, demandando constante atualização das estratégias de enfrentamento. Em tempos recentes, o campo da historiografia brasileira tem sido positivamente afetado pela atuação da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (RHN). Ao longo dos últimos seis anos, temos investido no reconhecimento da nossa presença nas diferentes regiões do país e no exterior; em práticas de fortalecimento mútuo (incluindo docentes do Ensino Superior e da Educação Básica,
e estudantes de graduação e pós-graduação); no compartilhamento de agendas e metodologias de pesquisa; e na ampliação de nossa participação em projetos de história pública, formação de professores/as e história ensinada. Há nisso um desejo de reposicionamento de nosso trabalho dentro e fora da academia, estreitando o diálogo com educadores/as, ativistas dos movimentos sociais e demais indivíduos comprometidos com a defesa da educação para a liberdade, os direitos humanos e a democracia.
Um primeiro gesto de afirmação da RHN como coletividade se deu em Florianópolis em 2015, durante o XXVIII Simpósio Nacional de História da Anpuh. Embora houvesse um número considerável de historiadoras negras e negros apresentando suas pesquisas em simpósios temáticos, essa presença não se repetiu na composição das “conferências” e “diálogos contemporâneos”. Os destaques da programação eram garantidos a historiadoras e historiadores brancos e isso não correspondia a uma exclusividade da edição catarinense do evento. Foi, então, que decidimos promover a primeira fotografia coletiva de afirmação de nossa existência. A mesma dinâmica foi repetida em Brasília e Recife, em 2017 e 2019, mobilizando cada vez mais pessoas.
O entendimento de que a realização de um seminário nacional próprio marcaria a consolidação da RHN nos acompanhou até o início da pandemia de covid-19. As coisas mudaram diante dos novos desafios de articulação intelectual e política num cenário de distanciamento social e o uso intensificado de ferramentas de comunicação virtual. O acúmulo obtido anteriormente foi fundamental para promovermos uma ampla variedade de ações, cujos resultados estão disponíveis em nossos perfis nas redes sociais (@historiadorxsnegrxs), bem como nos espaços de organizações parceiras.
Entre maio e novembro de 2020, promovemos: 1) a Jornada em Defesa do Direito à História da Gente Negra, marcando posição nas disputas de narrativas sobre a abolição; 2) a Jornada de História das Mulheres Negras, celebrando o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha; 3) a Jornada “A Abolição do Tráfico Transatlântico de Africanos Escravizados: os 170 Anos da Lei Euzébio de Queirós”, contando com integrantes atuantes no Brasil, nos EUA, na França, e com experiência de pesquisa em diversos países africanos; e 4) a Jornada do Novembro Negro: legados e perspectivas da Lei 10.639/03, voltada à reflexão sobre a implementação da lei que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira.
Em parceria com o Geledés e o Acervo Cultne, em setembro passado, demos início à coluna semanal Nossas Histórias, cujo conteúdo articula artigos, vídeos e a indicação de códigos de habilidades descritas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aos quais se associam as informações. Buscamos, com isso, promover a ampliação de repertório entre professoras/es da Educação Básica e demais envolvidos nesses debates, como prática de letramento histórico crítico.
Esse mesmo foco e essa mesma parceria têm orientado a elaboração das exposições virtuais Nossas Histórias: vidas, lutas e saberes da gente negra, abrigadas na plataforma Google Arts & Culture desde fins de 2020. Começamos apresentando um panorama sobre as narrativas da gente negra sobre o Quilombo de Palmares e o 20 de Novembro para, em seguida, partir para outros temas. Os títulos das salas virtuais lançadas são: 1) Relembrando Palmares – do quilombo histórico à memória do povo negro; 2) 1960-1970 – Grupo Palmares de Porto Alegre e a afirmação do Dia da Consciência Negra; 3) 1970-1980 – Nacionalização do Dia da Consciência Negra; 4) 1990-2000 – Palmares revive em Brasília; 5) Léa Garcia: atriz e ativista social negra; 6) Racismos: lutas negras no trabalho livre; e 7) Adé Dudu – Caminhos LGBT+ na luta negra.
Em escala global, a palavra de ordem “Vidas Negras Importam” tem encorajado muita gente a se posicionar contra o racismo. No Brasil, o que ganhamos ao aprender e dialogar sobre o passado com historiadoras negras e historiadores negros antirracistas?
Ana Flávia Magalhães Pinto
Departamento de História
Universidade de Brasília
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