O que faz o voo das corujas silencioso?

Departamento de Biodiversidade e Bioestatística
Universidade Estadual Paulista

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

As corujas são aves de rapina noturnas e algumas espécies, como a suindara (Tyto furcata), são capazes de capturar suas presas, geralmente roedores, mesmo na total escuridão, localizando-as exclusivamente por meio da audição. Seu voo na busca por alimento é tido como muito silencioso e evitaria que a presa percebesse a sua presença. No entanto, recentemente encontrou-se mais suporte para o fato de que a ausência de ruídos das asas evitaria o bloqueio da própria audição da coruja durante o voo de caça.

Mas segue a dúvida sobre o que tornaria o voo das corujas mais silencioso em relação ao de outras espécies de aves. Vejamos: quando o ar se move, gera som; quanto mais movimento, maior será este som. As espécies de aves com asas proporcionalmente pequenas em relação ao tamanho do corpo, como os pombos, não conseguem permanecer no ar sem bater as asas em intervalos curtos. Isso gera grande turbulência e, consequentemente, determinado ruído. As corujas, em contraste, apresentam corpo pequeno e asas proporcionalmente grandes e arqueadas, o que torna mais fácil a sustentação no ar. Isso lhes permite planar de forma mais prolongada, mesmo com poucas e sutis batidas de asas. Resultado: a turbulência gerada no ar é reduzida, assim como o ruído.

Além disso, as penas das asas das corujas têm serrilhas (que parecem minidentes de pentes) com franjas em suas bordas e a superfície do dorso dessas penas é aveludada – uma combinação de efeito importante na redução dos sons. Acreditava-se que essas características, únicas das corujas, suprimiam o som gerado pelo fluxo de ar, também chamado ruído aerodinâmico. No entanto, as serrilhas e o veludo são mais desenvolvidos justamente nas regiões das asas e da cauda mais suscetíveis à fricção, o que leva a crer que são responsáveis por reduzir o som estrutural, ou seja, aquele produzido pela fricção das penas se esfregando durante o voo.

É interessante que essas adaptações para o voo silencioso das corujas têm servido de inspiração para biólogos e engenheiros desenvolverem em conjunto meios para que dispositivos barulhentos emitam menos ruído. Atualmente, aplicações biomiméticas (que imitam as adaptações vistas na natureza) já podem ser encontradas em diversos produtos, como em ventiladores com serrilhado em suas lâminas. Ainda de forma experimental, essa tecnologia está sendo testada na produção de aviões comerciais com motores mais silenciosos. Embora as corujas sejam mais lentas, os mesmos princípios físicos são aplicáveis às hélices ou turbinas.

Recentemente, verificou-se alta mortandade de raias-ticonha na Baía de Guanabara. Quais seriam os efeitos da uma drástica redução da população desta espécie para o estuário?

Departamento de Oceanografia
Universidade Federal de Pernambuco

CRÉDITO: FOTO © CITRON, CC BY-SA 3.0

É importante esclarecer que a raia-ticonha (Rhinoptera bonasus) é um peixe cartilaginoso, e que costuma formar grandes cardumes. Esta espécie ocorre desde o sul da Nova Inglaterra (EUA) até o norte da Argentina, e normalmente se alimenta de moluscos e crustáceos. Ecologicamente, a raia-ticonha, pela atividade como predadora de algumas espécies e também como competidora de outras, desempenha um papel funcional na dinâmica dos ecossistemas marinhos, estuarinos e de água doce. Nesse sentido, reduções populacionais da espécie em questão podem levar a efeitos na teia alimentar e consequente modificação da composição (biodiversidade) da comunidade bentônica, que inclui moluscos e crustáceos. Mas, para entendermos melhor sobre as consequências da retirada desses predadores para a fauna bentônica, mais estudos deveriam ser realizados na Baía da Guanabara, principalmente onde essas raias foram encontradas, próximo à Ilha do Governador.

Quando adultas, as raias-ticonha utilizam diferentes áreas para reprodução (no verão) e alimentação (no inverno). O acasalamento ocorre anualmente ou a cada dois anos, e as fêmeas grávidas acessam as áreas de berçário para dar à luz. Algumas dessas áreas de berçário são conhecidas para algumas populações de raias-ticonha no hemisfério norte – por isso, são áreas protegidas. No entanto, o conhecimento sobre a biologia das raias-ticonha no hemisfério sul é raro, com relatos ocasionais de potenciais áreas de berçário. Provavelmente, o cardume encontrado morto na Baía de Guanabara estaria a caminho dessa área para dar à luz seus filhotes. Isso revela que estudos básicos sobre aspectos da história de vida são necessários com urgência no Brasil.

A recuperação de populações de tubarões e raias impactados requer atenção em todas as faixas etárias. Fatores como recrutamento – nascimento de filhotes e imigração de indivíduos –, sobrevivência dos indivíduos adultos e proteção de áreas de berçário são importantes para a estabilidade das populações. Apesar da preocupação com a preservação desses animais, o conhecimento sobre suas áreas de berçário ainda é escasso. Por isso, cabe ratificar que seria pertinente estimular a realização de estudos para avaliar o potencial de uso da Baía da Guanabara como área de berçário não apenas para a Rhinoptera bonasus. A captura incidental na pesca artesanal de indivíduos desta espécie, o uso de uma metodologia não letal para coleta de dados de indivíduos, a colaboração participativa de pescadores para pesquisa e acompanhamento de recém-nascidos e juvenis poderiam ajudar a identificar essas áreas na Baía da Guanabara e em outros estuários na região.

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