Premiada por seu trabalho com produtos naturais, a paraense Joyce Kelly fala da importância da bioeconomia, ressalta a urgência de mais diversidade na ciência e critica a falta de investimentos na região amazônica
Premiada por seu trabalho com produtos naturais, a paraense Joyce Kelly fala da importância da bioeconomia, ressalta a urgência de mais diversidade na ciência e critica a falta de investimentos na região amazônica
CRÉDITO: FOTO CEDIDA PELA AUTORA
Desde pequena, gostava de estudar. Fui alfabetizada em casa, pela minha mãe, e entrei na escola praticamente na segunda série do ensino fundamental. Meu interesse por ciência também surgiu cedo. Como toda criança, fazia muitas perguntas, mas, principalmente, as relacionadas aos temas de biologia, química e física. Eu tinha o hábito de observar a natureza e costumava brincar, com a minha irmã, de extrair perfumes de flores, pegando um pouquinho de álcool e fazendo pequenos extratos. Mal sabia que, de alguma forma, essa seria uma semente de meu trabalho no futuro.
Eu gostava tanto dessa área que pensei em ser bióloga, mas, no segundo ano do ensino médio, por influência de uma professora, me interessei por química e decidi prestar vestibular para esse curso. Essa decisão é um momento difícil para todo jovem. Com apenas 16 anos, tinha que decidir o que eu ia fazer para o resto da vida.
Mas fui aprovada para o bacharelado em Química na Universidade Federal do Pará (UFPA) e, logo no início da graduação, procurei por um estágio. Queria estar num laboratório! Foi um privilégio poder fazer pesquisa com o apoio de um programa de incentivo à iniciação científica. Aquela experiência me abriu muitas portas, aprendi a como desenvolver planos de trabalho, projetos de pesquisa e a conduzir experimentos… A minha orientadora da época me ensinou a redigir textos científicos, a apresentar trabalhos em congressos e outras coisas que carrego comigo até hoje, como critério científico, rigor experimental, a exigência com os alunos… Vivi intensamente aquela etapa e me envolvi com a grande área que trabalho até hoje: a química de produtos naturais.
Óleos essenciais e bioeconomia
Na química de produtos naturais, trabalhamos identificando substâncias produzidas por organismos como plantas e alguns micro-organismos, que são produzidas em resposta às interações deles com o meio ambiente. Essas substâncias podem ser usadas em medicamentos, na agricultura, entre outras áreas. Eu trabalho com óleos essenciais e aromas, e estudo suas aplicações, como fármacos e cosméticos. Os óleos essenciais que têm destaque no mercado não são de origem amazônica, e conhecer as propriedades biológicas e o potencial econômico das substâncias daqui vai favorecer a bioeconomia da nossa região.
Os óleos essenciais que existem no mercado não são de origem amazônica, e conhecer as propriedades biológicas e o potencial econômico das substâncias daqui vai favorecer a bioeconomia da nossa região
De volta à minha trajetória, depois da graduação, parti para o mestrado e, em seguida, para o doutorado, ambos na área de produtos naturais na UFPA. Foram experiências enriquecedoras porque atingi um certo grau de maturidade para desenvolver com mais seriedade as pesquisas que conduzo até hoje.
Antes de terminar o doutorado, fui aprovada no meu primeiro concurso público e comecei a minha carreira docente num campus no interior do estado do Pará. Em seguida, passei em outro concurso e voltei à capital. Tinha muita vontade de voltar porque, no campus onde eu trabalhava antes, não havia infraestrutura suficiente para fazer pesquisa, o que sempre foi um dos focos da minha carreira.
Eu já era docente da UFPA quando saí de licença para o pós-doutorado, na Universidade do Alabama, em Huntsville (EUA), como bolsista do programa Ciências Sem Fronteiras. A partir dali, estabeleci parcerias internacionais, continuo trabalhando junto com o meu supervisor de pós-doc e mantenho outros colaboradores nos Estados Unidos.
Por mais investimentos para o Norte
De volta ao Brasil, segui com meu trabalho na UFPA, onde desenvolvo minhas pesquisas e dou aulas na graduação e na pós-graduação. Estar numa instituição na região Norte representa enfrentar mais obstáculos em comparação aos centros Sul-Sudeste: os programas de pós-graduação são mais recentes, não dispomos da mesma infraestrutura e, consequentemente, temos um número menor de recursos humanos formados. A região Norte tem a menor concentração de doutores do país. Temos o desafio de uma extensão geográfica muito grande, é difícil consolidar um grupo de pesquisa, principalmente para aqueles que estão longe das capitais da região, Manaus e Belém, que, aliás, ficam a mais de 3 mil quilômetros de distância uma da outra. Com todos esses desafios, muita gente acaba indo embora para outros estados e países.
Apesar disso tudo, conseguimos realizar muitas coisas, mas, em algumas áreas, temos que trabalhar mais para conseguir o mesmo resultado que teríamos em menos tempo se tivéssemos infraestrutura. Falta investimento na maior região do Brasil em área geográfica para a elaboração de projetos de pesquisa, bolsas de fixação de recursos humanos, parcerias com empresas, polos industriais…. Talvez isso possa mudar com esse novo olhar para a Amazônia.
Somada a tudo isso, há a questão da diversidade, que tem vários recortes, várias camadas. Em pleno 2023, aqui na região Norte, por incrível que pareça, temos menos de 10 mulheres com bolsa de produtividade do CNPq nas áreas de STEM. Se, nacionalmente, as mulheres já são subrepresentadas nas áreas de exatas e tecnologia, na região Norte, isso se torna muito mais difícil.
Outro ponto é a diversidade racial. Em todas as áreas, as pessoas negras e pardas estão subrepresentadas. Aqui, as poucas mulheres bolsistas de produtividade em sua maioria são brancas. Entre pesquisadores e pesquisadoras, eu sou a única bolsista de produtividade vigente em química de toda a região Norte. Evidentemente, não sou a única pessoa competente nesta área na região.
A pergunta que fica é: será que a ciência brasileira é branca e sulista ou sudestina?
A pergunta que fica é: será que a ciência brasileira é branca e sulista ou sudestina?
Essa é uma reflexão que precisa ser feita porque as tomadas de decisão não podem ser de pessoas com apenas uma visão da realidade. Os Comitês de Assessoramento do CNPq, que julgam propostas de apoio à pesquisa, são formados predominantemente por pessoas das regiões Sul e Sudeste, algumas poucas do Nordeste, mas, na minha área de química, por exemplo, não tem ninguém do Norte. E por que não tem?
É preciso ter um olhar especial para detectar onde está o problema e para corrigir essas assimetrias de gênero, de raça e regionais.
É preciso ter um olhar especial para detectar onde está o problema e corrigir essas assimetrias de gênero, de raça e regionais
Prêmios no currículo
Minha trajetória mostra o potencial de quem faz ciência em nossa região. Em 2013, recebi o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, promovido pela L ‘Oreal, a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Quando me inscrevi, achei que não conseguiria porque as premiadas anteriores eram todas do Sul/Sudeste. Até hoje sou a única da minha região laureada da área de Ciências Exatas. Foi um divisor de águas na minha carreira.
Pouco anos depois, em 2017, fui nomeada como membro afiliado da ABC. Essa categoria é para pesquisadores de até 40 anos de idade, e ficamos como membros temporários da academia por cinco anos. Foi uma ótima experiência porque pude conhecer uma rede de pesquisadores dos outros estados, participar de discussões da ABC, discutir o desenvolvimento da ciência do país. Em 2021, eu fiquei em segundo lugar no Prêmio Professor Otto Gottlieb, da divisão de química de produtos naturais da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), na categoria jovens pesquisadores. E neste ano (2023), ganhei o prêmio Mulheres Brasileiras na Química (da American Chemical Society e da SBQ), na categoria Líder Emergente. Esse prêmio veio dez anos depois da minha primeira láurea e considero como uma consolidação na minha carreira.
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Cientistas de diversas áreas do conhecimento e diferentes nacionalidades desenvolveram um algoritmo capaz de identificar as barragens que poderiam gerar eletricidade de forma mais vantajosa, causando o menor dano possível na região
“Aquilo que sabemos é pouco; o que não sabemos é imenso”. A frase atribuída ao cientista francês Pierre-Simon Laplace (1749-1827) cai sob medida para o quanto ainda desconhecemos sobre a diversidade dos protozoários, diminutos seres onipresentes na natureza
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