A pesquisa iniciada com a descoberta da lista de libertos da barca Maria Adelaide trouxe alguns outros aspectos às análises sobre esses retornos à África. Um deles é a existência de fases distintas nos movimentos migratórios: a partir do século 18 até aproximadamente a década de 1820, em que funcionam as conexões por meio do tráfico atlântico de africanos escravizados e se caracterizam por viagens de pequenos grupos sendo, sobretudo, individuais; a partir de 1830, em especial após 1835, em grupos maiores e motivadas por perseguições e condições mais restritivas impostas aos libertos no Brasil; depois da extinção do comércio escravista para o Brasil, em grupos tanto numerosos como pequenos, apresentando razões que revelam tanto a intenção de em instalarem-se na costa africana numa posição privilegiada na qualidade de parceiros dos novos interesses europeus como o desejo de regresso com motivos pessoais e religiosos – neste último caso, com a possibilidade de ir e, eventualmente, voltar.
Essas migrações com motivações religiosas foram especialmente estudadas por uma pesquisadora radicada na Bahia chamada Lisa Castillo. Já os projetos de retorno enunciando estratégias para constituírem no continente africano grupos de apoio no combate ao tráfico atlântico de escravizados e na promoção do chamado comércio lícito foram trazidos por esta pesquisa iniciada pelo registro de embarque da barca Maria Adelaide.
A predominância do enfoque das pesquisas sobre as comunidades de retornados do Brasil no Golfo do Benin também levou a uma redução na identificação dos lugares de partida e destino. O porto de Salvador foi, sem dúvida, o lugar de embarque majoritário durante todo o período das viagens a partir do Brasil, porém, do Rio de Janeiro, partiram diversos navios levando grupos de africanos e seus descendentes ao continente na mesma época. E os locais para onde se dirigiam não se restringiram à costa ocidental africana, mas também ao litoral da região Congo-Angola.
Além dos libertos do Maria Adelaide, na pesquisa foram encontrados outros retornos numerosos a partir do porto do Rio de Janeiro. Em 1840, o brigue Feliz Animoso partiu da cidade levando 30 pretos minas libertos, passando pela Costa da Mina (África Ocidental) e Benguela. E, em 1851, outro brigue, de nome Robert, levou 63 pessoas africanas libertas, numa viagem que ainda iria passar por Salvador para recolher outros passageiros. O grupo de libertos firmou um contrato detalhado com o capitão do navio, transcrito por dois missionários quacres estadunidenses no Rio de Janeiro, que haviam sido contatados para verificar o compromisso do capitão da embarcação.
A pesquisa iniciada com a descoberta da lista de libertos da barca Maria Adelaide trouxe alguns outros aspectos às análises sobre esses retornos à África. Um deles é a existência de fases distintas nos movimentos migratórios: a partir do século 18 até aproximadamente a década de 1820, em que funcionam as conexões por meio do tráfico atlântico de africanos escravizados e se caracterizam por viagens de pequenos grupos sendo, sobretudo, individuais; a partir de 1830, em especial após 1835, em grupos maiores e motivadas por perseguições e condições mais restritivas impostas aos libertos no Brasil; depois da extinção do comércio escravista para o Brasil, em grupos tanto numerosos como pequenos, apresentando razões que revelam tanto a intenção de em instalarem-se na costa africana numa posição privilegiada na qualidade de parceiros dos novos interesses europeus como o desejo de regresso com motivos pessoais e religiosos – neste último caso, com a possibilidade de ir e, eventualmente, voltar.
Essas migrações com motivações religiosas foram especialmente estudadas por uma pesquisadora radicada na Bahia chamada Lisa Castillo. Já os projetos de retorno enunciando estratégias para constituírem no continente africano grupos de apoio no combate ao tráfico atlântico de escravizados e na promoção do chamado comércio lícito foram trazidos por esta pesquisa iniciada pelo registro de embarque da barca Maria Adelaide.
A predominância do enfoque das pesquisas sobre as comunidades de retornados do Brasil no Golfo do Benin também levou a uma redução na identificação dos lugares de partida e destino. O porto de Salvador foi, sem dúvida, o lugar de embarque majoritário durante todo o período das viagens a partir do Brasil, porém, do Rio de Janeiro, partiram diversos navios levando grupos de africanos e seus descendentes ao continente na mesma época. E os locais para onde se dirigiam não se restringiram à costa ocidental africana, mas também ao litoral da região Congo-Angola.
Além dos libertos do Maria Adelaide, na pesquisa foram encontrados outros retornos numerosos a partir do porto do Rio de Janeiro. Em 1840, o brigue Feliz Animoso partiu da cidade levando 30 pretos minas libertos, passando pela Costa da Mina (África Ocidental) e Benguela. E, em 1851, outro brigue, de nome Robert, levou 63 pessoas africanas libertas, numa viagem que ainda iria passar por Salvador para recolher outros passageiros. O grupo de libertos firmou um contrato detalhado com o capitão do navio, transcrito por dois missionários quacres estadunidenses no Rio de Janeiro, que haviam sido contatados para verificar o compromisso do capitão da embarcação.
Luciano de Queiroz
Parabéns e obrigado pelo texto. Poderia indicar a bibliografia utilizada para embasar o seu texto?